quarta-feira, 30 de abril de 1997

Bacias Hidrográficas de Minas Gerais: Recuperação (I)


Economista Emani Emerick Faria

1. MATAS DO TOPO: É só fazer com que seja cumprida pelos proprietários de terrenos rurais a legislação florestal em vigor: "todos os morros (águas vertentes) têm que ter sua parte superior recoberta por matas nativas ou reflorestadas. 

O percentual a ter mata cerrado ou reflorestamento na superfície do topo do monte varia em função da declividade do terreno". Isto para que haja infiltração das águas pluviais no subsolo, seja evitada a erosão e o ímpeto das correntezas das chuvas seja suavizado, além de se ter em conta a preservação da flora e fauna; mais a recuperação da umidade local, preservação dos ecossistemas e combate permanente às enchentes.


2. MATAS CILIARES Também é só fazer com que seja cumprida pelas autoridades competentes (Justiça, IEF, IBAMA, Polícia Florestal, etc.) a legislação em vigor, a qual não vem sendo integralmente seguida nem eficazmente exigida a sua observância. 

As matas ciliares protegem diretamente os cursos d'água, perenizando-os e evitando o assoreamento das margens e do leito da corrente.

Legalmente, a área de culturas permanentes e temporárias deve situar-se nos terrenos inclinados entre as matas do topo c as ciliares. 

No Leste de Minas frequentemente, observamos que a cultura do café (plantio) nem sempre respeita esses parâmetros legais. A consequência é que o solo é carreado anualmente para os rios, principalmente pela ausência dos retentores de matéria sólida -  CORDÕES DE CONTORNOS NIVELADOS.

Com a pauperização do solo, seguramente quem mais ganha dinheiro com agricultura no Brasil são as fábricas de adubo.


3. PASTAGENS: É preciso repensar urgentemente a pecuária bovina. Será que as autoridades competentes não percebem (ou estão impedidas de enxergar) que a impermeabilização das pastagens pelo inexorável pisoteio dos animais pesados é um dos maiores causadores de enchentes, na medida em que as águas fluem imediatamente após e durante as chuvas, das pastagens para os leitos dos rios, transbordando-os? Com isso, o que acontece anualmente, são as chamadas "marginais caipiras do Tietê".

Por que não conduzir a exploração bovina intensivamente (uso de tecnologia e redução da área de pastoreio livre) ao invés da forma extensiva e rudimentar empregada hoje na maior parte das propriedades? É preciso liderar áreas para florestas naturais, econômicas e fruticultura, para que haja geração de umidade através da evapotranspiração, sem erosão.


4. BARRAGENS: Toda a área geográfica formada da bacia onde se encontra inserida uma barragem seria monitorada pela empresa responsável pela exploração de suas águas (abastecimento urbano, rural, industrial, geração de energia elétrica, irrigação, etc). 

A política de recuperação ambiental seria conduzida tendo por base um planejamento técnico envolvendo autoridades, faculdades, empresas e principalmente os agricultores com terras a montante da represa. 

Uma barragem sem a proteção da bacia hidrográfica está condenada a desaparecer e a morrer de poluição ao longo do tempo, como vem acontecendo com a Lagoa da Pampulha e com a represa de Três Marias.

Uma usina ou retenção hídrica nunca deveria ser construída com uma única finalidade. São inúmeros os fins de uma represa: regular a vazão do rio, gerar energia elétrica, abastecimento urbano, irrigação dentre outros. 

Os construtores e responsáveis pelas obras e planejamento de dois dos três maiores lagos artificiais do Brasil (Sobradinho, Tucuruí e Itaipu) simplesmente ignoraram o fato singular de que os rios Tocantins e Paraná são navegáveis e não edificaram as eclusas para a transposição das embarcações flutuantes. 

Hoje, a hidrovia do Paraná está interrompida em Foz do Iguaçu e a do Tocantins não atinge as proximidades de Belém do Pará.


5. REFLORESTAMENTO: Neste item, encontramos o fator complementar à recuperação natural. Pode-se plantar o que for preciso: ornamentais, econômicas, nativas, exóticas, etc. Principalmente no interior percebe-se que as áreas urbanas não são plantadas. O esforço anual de plantio deve ser, no nosso entendimento, capitaneado pelo IEF. 

O gargalo de um programa acelerado e intenso de plantio reside na produção de mudas e na sua distribuição em todos os municípios de Minas. 

O reflorestamento tem um custo que deve ser rateado entre todos os participantes e beneficiários: poder público, empresas, proprietários rurais. Todo município precisa ter horto florestal com produção local.

Sabemos hoje, que existem verdadeiras indústrias de produção de mudas, com capacidade para produzir até 50.000 unidades/dia, como é o caso da Aracruz Florestal e Cenibra. 

Só com uma elevada produção de mudas, poder-se-á reverter o atual quadro "negro" onde a taxa de desmatamento c desagregação é superior à de recomposição ambiental C qualidade das águas. (Continua no próximo número).


Ermani Emerik Faria

Economista, Presidente do Conselho de  Desenvolvimento de Alto Jequitibá.


Publicado no Jornal Tribuna do Leste, em edição de 27 de abril de 1997.


Digitalização e fotos: Thomaz Júnior
















terça-feira, 29 de abril de 1997

Hale Bopp já pode ser visto em Manhuaçu

Desde 1986 nunca se olhou tanto para o céu quanto agora. É que nesta época estamos sendo visitados por um viajante que quando esteve perto de nós da última vez, estávamos construindo as pirâmides do Egito. Trata-se de um cometa. E não é um cometazinho qualquer não, pois é mil vezes mais brilhante que o Halley e 10 vezes maior. Está sendo chamado de cometa do milênio e foi visto pela primeira vez em 23 de Julho de 1995 por dois astrônomos norte-americanos, Alan Hale, no Novo México, e Tomas Bopp, no Arizona, ambos usando telescópios de 40cm, que com diferença de minutos comunicaram a descoberta ao Bureau Central de Telegramas Astronómicos da UAI, que o designou cometa 199501, batizando-o popularmente com o nome de seus descobridores HALE-BOPP.

Os cometas são enormes bolas de gelo, com acúmulo de poeira e lixo cósmico. São abundantes num determinado lugar no espaço (nuvem de Oort), que fica além da órbita do planeta Plutão. Os astrônomos acreditam que alguns deles se desprendem desta órbita natural por influência da gravidade de outros astros e aí são atraídos pela gravidade do sol e passam a orbitar o astro rei mais de perto. Esta nova órbita desenvolvida pelos cometas é bastante elíptica, ou seja, uma esfera achatada, como um ovo por exemplo. As vezes chega a ser tão achatada que o tempo gasto entre o periélio (ponto mais perto do sol) e o afėlio (ponto mais distante do sol) chega a ser de milhares de anos, como no caso do cometa Hale-Bopp, que leva aproximadamente 2.500 anos para completar uma órbita.

No dia 22 de Março p.p, o Hale-Bopp cruzou a órbita de nosso planeta, passando a 197 milhões de quilômetros de nós, pouco tempo depois, dia 01 de Abril, passou pelo periélio, ou seja, ponto mais próximo do sol e, consequentemente, quando fica mais brilhante Naquela data só os habitantes do hemisfério norte puderam acompanhar sua grandeza. Relatos dão conta de sua aparição no céu mesmo com a luzes das cidades, que atrapalham muito o brilho dos astros no firmamento.

Desde o dia 07 de abril, porém, o Hale-Bopp já pode ser observado no nosso hemisfério e especificamente em Minas Gerais, desde o dia 09. 

Em Manhuaçu, o astrônomo amador, Geraldo D'Ângelo, e diversos outros interessados pelo espaço, já vem acompanhando o cometa desde o dia 10, fazendo observações consecutivas.

É importante informar, pois muitas pessoas ainda acreditam que os cometas em suas passagens próximas do sol e da terra, não cruzam o nosso horizonte como avião ou estrela cadente. Na verdade, nós só podemos observar seu movimento aparente com o passar dos dias. De resto, este astro visitante de tempos em tempos, nasce e se põe no horizonte como o sol, a lua, os planetas e as próprias estrelas distantes. Sendo que este nascer e pôr dos astros celestes só se dá porque o nosso planeta terra está girando como uma piorra, realizando um movimento chamado rotação e que a cada 23 horas e 56 minutos passa pelo mesmo ponto.


COMO OBSERVAR


A melhor época para se observar o cometa Hale-Bopp no céu começa agora nesta semana (de 29/04 à 06/05), pois além de estar mais alto no horizonte, ficando mais tempo para ser visto, estará sozinho, sem o brilho da Lua.

Para localizar o cometa aqui em Manhuaçu basta procurar um local mais alto, nos bairros Nossa Senhora Aparecida e São Vicente por exemplo, aguardar o pôr do sol, que se dá ali pelos lados da antena da Rádio Manhuaçu AM 710 (a que têm 03 lâmpadas). Cerca de meia hora depois do pôr do sol, voltamos nossos olhos para a antena da Rádio 88 FM e da torre de telefonia celular. Pouco acima das luzes destas torres, estará o cometa.

Podemos também seguir um outro caminho. Logo acima de onde o sol se pôs, cerca de 50 minutos depois, (aproximadamente 18:10 horas) aparecerá um grupo de estrelas muito conhecido: a constelação de Orion, que traz as famosas estrelas Três Marias encurraladas dentro de uma espécie de retângulo. Logo abaixo delas, poderemos ver uma estrela vermelha e sozinha, será Aldebaran, da constelação de Touro, abaixamos um pouco mais nosso olhar e avistaremos uma estrela embassada, como se houvesse uma nevoa que ofuscasse seu brilho (é o cometa).

Para ter certeza que localizou o Hale-Bopp, olhe mais à sua direita e ali deverá estar uma estrela esbranquiçada. Se estiver tudo certo, você acabou de localizar a estrela Capella da constelação do Cocheiro, e, graças ao seu interesse pelo cometa, passou a saber um pouco mais do céu

    O ideal para se observar o cometa é usar um binóculo ou uma luneta com aumento de 4 a 10 vezes, assim você poderá diferençá-los das demais estrelas por sua enorme cauda.


Artigo publicado no Jornal Tribuna do Leste, em edição de 29 de abril de 1997, na página 16.

Digitalização: Thomaz Júnior.
Foto: internet/ Wikipedia.

O Evangelista Marcos

 Pe. Celso Loraschi


Queridos seguidores e seguidoras de Jesus!


Sinto uma alegria muito especial em conversar com vocês. Durante este ano de 1997, estaremos caminhando juntos, empenhados em aprofundar a prática de Jesus Cristo. Queremos assim seguir os mesmos passos dele, ajudando na construção do seu Reino de Justiça, Amor e Paz.


QUERO ENTRAR NO MUTIRÃO


Sei que vocês estão se preparando para o grande jubileu do Ano 2000. através do Projeto de 


Evangelização "Rumo ao Novo Milênio".

Gostei do "projeto". Ele foi feito em mutirão e visa a transformação da sociedade: o mundo deve ser a "casa de todos”. Eu também decidi entrar neste mutirão.

Permitam que me apresente: Sou Marcos. Sou conhecido como o evangelista Marcos, aquele que escreveu o primeiro Evangelho de Jesus Cristo.

Eu sei que, na Bíblia de vocês, o primeiro evangelho que aparece é o de Mateus. Na verdade, porém, meu amigo Mateus, bem como Lucas, escreveram depois de mim a vida do Mestre.

Aliás, várias coisas que eles escreveram, se basearam no meu escrito. 

Na verdade, não foi sozinho que eu escrevi o Evangelho que é atribuído a Marcos. Para isso contribuiu um grupo grande de cristãos. Nós tivemos a graça de conhecer Jesus Cristo através da pregação de Paulo, de Pedro e de outros discípulos e discípulas de Jesus.


DE CASA EM CASA


O entusiasmo tomou conta de nós e decidimos seguir para valer a proposta do Filho de Deus.

Todos nós: homens, mulheres, crianças, jovens e idosos nos reuníamos, de preferência nas casas. Aí conversávamos, rezávamos, celebrávamos a Ceia do Senhor e nos instruíamos sobre a doutrina e a prática de Jesus.

Estes encontros comunitários nos ajudavam a entender e a viver mais claramente e profundamente a mensagem daquele que foi se tornando o nosso único Mestre e Senhor. A minha própria casa era um espaço de encontros e reuniões de uma dessas comunidades cristãs.

Foi nesses encontros que aprendi o que é ser discípulo de Jesus.

Pedro se hospedou algumas vezes na minha casa. Se quiserem conferir, leiam Atos dos Apóstolos 12.12. Aí vocês vão ver que meu nome completo é João Marcos. Minha mãe se chamava Maria e era uma pessoa que, pela sua fé e pela sua vida dedicada à comunidade, me ensinou grande parte das coisas que pratiquei e anunciei.


MISSIONÁRIO EM ROMA


Ainda no livro dos Atos, vocês vão me, encontrar, em pleno trabalho missionário, acompanhando meu primo Barnabé e Paulo (At 12, 25; 13, 5), Eu gostava muito de ser um evangelizador pelo mundo afora, assim como o amigo Paulo, de quem fui colaborador (Fm 24).

Graças a Deus, ele gostava de mim e me valorizava muito (2Tm 4, 11).

A Roma, capital do Império Romano, cheguei mais tarde. Lá tive a sorte, ainda maior, de conviver com Pedro e a comunidade cristã de lá. Eu aprendi a ter grande estima e admiração por Pedro. Ele mesmo me chamava de "meu filho" (1Pd 5, 14).


TEMPOS DIFÍCEIS


Foi em Roma, que nós decidimos escrever o Evangelho de Jesus Cristo. Acontece que muitas coisas que Jesus havia feito e ensinado estavam sendo esquecidas.

Estávamos no ano 70. Já haviam passado 40 anos da morte e ressurreição de Jesus. Além disso, muitos cristãos e cristãs foram perseguidos e mortos. Nós também, em Roma, estávamos em situação de muito sofrimento.

O imperador Nero, no ano 64, mandou incendiar Roma e colocou a culpa nos cristãos. A perseguição foi duríssima!

Além disso, havia muita indigência, fome e abandono. A maioria das pessoas que faziam parte da comunidade cristã eram bem pobres, sem casa e sem segurança.


DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM


Não bastasse isso, neste mesmo ano 70, recebemos a notícia que a cidade de Jerusalém havia sido destruída juntamente com o templo, pelo exército romano. Minha casa ficava naquela cidade.

Jerusalém era considerada a cidade santa e o templo, o lugar santíssimo. Muitos irmãos e irmãs cristãos moravam lá. Os que escaparam foram se dispersando pelo mundo... Tudo isto causava muita tristeza em nosso coração e alguns da comunidade estavam desistindo de viver a proposta de Jesus.

Foi para animar as comunidades cristãs e ajudá-las a perseverar no caminho de Jesus, que nós escrevemos o Evangelho. O primeiro título que nós demos foi: "Começo do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus". Só mais tarde, a tradição deu-lhe o nome de "Evangelho de Marcos".


ATÉ À PRÓXIMA


Bem amigos(as), na próxima vez nós continuaremos a conversa. Explicarei para vocês porque este Evangelho, esta Boa Notícia, é só o começo....

Vou adiantando que o importante é comprometer-se em comunidade e com a comunidade, construindo o Reino de Deus pelo Testemunho, pelo Serviço, pelo Diálogo e pelo Anúncio, como indica o "Projeto".

O que não se pode fazer é cruzar os braços ou desanimar frente às dificuldades. Até a próxima.


Pe. Celso Loraschi (JOVEM MISSÃO)


Artigo publicado no Jornal Tribuna do Leste, ed. de 27/04/1997, p. 04.

domingo, 27 de abril de 1997

1º Simpósio de Cafeicultura de Montanha de Manhuaçu

 
1º Simpósio de Cafeicultura de Montanha de Manhuaçu é realizado. 

Publicação no Jornal Tribuna do Leste, edição de 27 de abril de 1997.

(Digitalização: Thomaz Júnior)









terça-feira, 22 de abril de 1997

Desativação de Ferrovias, Ernani Emerick Faria

DESATIVAÇÃO DA E.F.L. (RFFSA) - FERROVIA CENTRO-ATLÂNTICA - RAMAL: CONGONHAS - OURO PRETO - MARIANA - PONTE NOVA - VIÇOSA - CATAGUASES 


Economista Ernani Emerick Faria


Em 1971 ocorreu a desativação da EFL no ramal Manhuaçu Cachoeiro do Itapemirim, via Alto Jequitibá, Espera Feliz e Guaçuí. Agora neste início de 1997, estamos presenciando a liquidação de mais um extenso trecho ferroviário no leste de Minas.

O povo brasileiro é omisso e, infelizmente, não conhece a extensão do estrago causado à economia pelo fechamento de uma ferrovia. Ao se extinguir uma estrada de ferro liquida-se com o passado, o presente e o futuro com um só golpe. 

Quanto ao atentado à preservação da Memória Nacional, nem nos atrevemos a falar, pois, no coração é forte. 

Não somos contra os caminhões, automóveis, nem contra o transporte rodoviário. Eles têm seu lugar assegurado. O valor de uma ferrovia é que ela é autossustentável, isto é, sua manutenção é de sua própria responsabilidade. 

Dizer que as ferrovias são deficitárias é uma grande balela, um engodo. Quero que nos apresentem um ramal rodoviário construído com recursos da iniciativa particular que seja lucrativo, com a cobrança de pedágio pela passagem dos veículos automotores. 

Duvido que a análise financeira de um projeto rodoviário seja rentável, que haja retomo do investimento. Aliás, proprietários particulares de rodovias públicas são uma falácia. 

No mundo inteiro a construção e manutenção de rodovias é responsabilidade do Estado (governos federal, estadual e municipal). A rodovia enquanto empresa é altamente deficitária em virtude dos altos custos de construção, manutenção e reposição do piso pavimentado.

A ferrovia é (ou deveria ser) a espinha dorsal do transporte pesado e de longa distância no país. É fator de segurança nacional. A ausência de extensa e eficiente malha ferroviária agrava o chamado "custo do Brasil", tomando-o inibidor da competitividade dos produtos brasileiros. A minguada extensão de trilhos no Brasil (apx. 32.000 Km) não é quase nada quando comparada com a Índia, outro país subdesenvolvido, que é seguramente uma das maiores redes ferroviárias do mundo, acima dos 200.000 Km. Até a Argentina tem mais trilhos que o Brasil.

A civilização brasileira, mesmo após 500 anos de existência, ainda não conseguiu afastar-se do litoral exatamente pela ausência de um transporte econômico, seguro, de alta tonelagem e confiável a ferrovia que a conduzisse ao vasto território central e do norte do país, ainda extremamente pobres e despovoados.

A ferrovia é a base, infraestrutura, para os gigantescos projetos industriais: montadoras de automóvel, alumínio, siderúrgica, cimento, celulose, serraria de pedras, refinaria de petróleo, usina de pelotização, mina, concentração de minérios, ferroligas, etc.

Paradoxalmente, parece que antigamente era muito fácil construir estradas de ferro, com picaretas, pás, enxadas, carroças de burro e mão-de-obra desqualificada. Hoje transpira ser mais difícil, mesmo com as perfuratrizes automáticas, moto-scrapers, tratores de esteira, pás carregadeiras, concreto armado, caminhões basculantes, etc.

Mas voltemos à atual desativação de parte da Centro-Atlântica: essa desativação não se justifica. Há cláusulas no contrato de arrendamento das linhas que obrigam a empresa concessionária a manter todas as linhas recebidas em funcionamento regular.

Vamos colher agora alguns depoimentos sobre o último golpe em cima da EFL (Estrada de Ferro Leopoldina/RFFSA):


1-Hipoteticamente, do presidente da Centro-Atlântica.


- A verdade é a seguinte: nosso maior objetivo é a obtenção de lucro. Com tudo que seja oneroso e deficitário temos que acabar. Esse é o caso do ramal de Ponte Nova. Só dá prejuízo e é de difícil operação técnica; devido ao traçado sinuoso, rampas fortes, trilhos desgastados, dormentes apodrecidos e material rodante caindo aos pedaços. Essa Leopoldina só me dá aborrecimento. Vejam bem, nem minha filha é. Arrendei-a do governo federal (RFFSA) com a obrigação de cuidar muito bem dela. Só que pelo fato de estar muito doente, fraca e quase imobilizada, acho muito melhor matá-la (desativá-la) do que a internar numa clínica de recuperação (substituição de trilhos desgastados e dormentes podres, retificação de curvas, duplicação de rampas, perfuração de túneis, aumento de velocidade média dos trens, substituição de vagões e locomotivas, aperfeiçoamento da mão-de-obra, diminuição do nº de estações, política de captação de cargas, etc). 


II- Dom Pedro II e Barão de Mauá (post mortem)


-Nossa preocupação é cortar o Brasil de norte a sul e de leste a oeste com estradas de ferro. A Europa e a América do Norte entraram nessa onda e nós não podemos ficar para trás. Para tanto iremos construir quantas ferrovias forem necessárias. Com capital nacional auxiliado por recursos estrangeiros, iremos levar os trilhos (o progresso) a todos os rincões de nossa terra. 


III-Engenheiro Pedro Nolasco (post mortem) 


- Não é fácil construir uma ferrovia. Dediquei toda minha vida, não me lembro se foi a partir de 1906, a levar a Estrada de Ferro Vitória-Minas do Espírito Santo até Nova Era (cerca de 50 anos). 

Os recursos financeiros vieram principalmente dos Estados Unidos. 

A febre amarela matou centenas de operários meus, mas uma guerra mataria muito mais. O meu sonho é que pelo menos até o ano de 1997 os trilhos da EFVM alcancem Itabira e a Estação Central de Belo Horizonte. Agora, quanto ao fechamento da Leopoldina, o que lamento dizer é que em apenas 1 dia esvai-se todo o esforço, trabalho e dinheiro empregado durante 50, 70 ou mesmo 100 anos de história ferroviária. 


Alto Jequitibá, 29 de março de 1997.


Emani Faria - Economista Presidente do Conselho de Desenvolvimento de Alto Jequitibá



Créditos e legenda da foto do trem:

Foto publicada no Facebook, na Página Você é de Manhuaçu SIM, por Professor Flávio Almeida. 

NO TEMPO DO TREM DE FERRO . Foto tirada na Estação Ferroviária de Manhuaçu , na baixada . No cenário , a Locomotiva “ Maria Fumaça “ como pano de fundo. No elenco : Sérgio Albuquerque Filgueiras e Katia Albuquerque Filgueiras ( irmãos entre si, ainda adolescentes) com parentes da família.
Foto do Acervo de Sérgio Albuquerque Filgueiras . Restauração: Flávio Almeida com aplicativo IA.


Pesquisa e digitalização: Thomaz Júnior

segunda-feira, 21 de abril de 1997

EE Maria de Lucca Pinto Coelho comemora 69 anos

Neste dia 21 de abril, Manhuaçu não está comemorando apenas o Dia de Tiradentes, é também o aniversário de 69 anos de existência da Escola Estadual Maria de Lucca Pinto Coelho. Uma série de atividades foi planejada pelo Diretor Eduardo Portilho, mas uma comemoração maior só deve acontecer no 70° aniversário, em 1998.

A escola é a maior de toda a área jurisdicionada à 20ª Superintendência Regional de Ensino, contando com 2.280 alunos neste ano. Conhecida como Escola Normal de Manhuaçu, o estabelecimento de ensino já passou por várias mudanças nessas quase sete décadas. 

No final dos anos 70, foi instalada no atual prédio, na rua Mellin Abi-Ackel, expandindo suas atividades e capacidade. 

Foi com trabalho árduo de muitos diretores, professores, serviçais e especialistas que o educandário conseguiu ser considerado um exemplo de qualidade e disciplina. 

A maior luta, neste primeiro ano de direção de Eduardo Portilho, é a de resgatar o ensino e melhorar as condições da escola, preparando-a para os seus setenta anos.

Em todo esse tempo, profissionais de todas as áreas, políticos, empresários, professores, médicos, contadores, advogados e muitas outras pessoas de Manhuaçu e de várias outras localidades estudaram na Escola Maria de Lucca.

Hoje, Eduardo Portilho trabalha na recuperação das salas, com pintura e reforma, conseguindo duzentas novas carteiras e trabalhando por mais melhorias. 

Com uma nova metodologia de trabalho, colocando disciplina, e, com isso, gerando melhorias no ensino, ele já conseguiu mudar a imagem do estabelecimento para melhor. 

O maior dos desafios agora é reformar a quadra poliesportiva da escola, permitindo que ocorram as aulas de educação física e atividades culturais e de lazer. 

O quadro atual é de abandono e sucateamento dos aparelhos esportivos.

O diretor quer em 98 realizar uma grande comemoração no aniversário da escola. Neste ano em que ainda está colocando a casa em ordem, Eduardo quer promover durante esta semana atividades com os alunos, contando com a participação da Banda do 11º Batalhão de Polícia Militar e de vários palestrantes.

Um dos momentos mais marcantes e com certeza o mais inovador será na quinta-feira, às oito horas, quando os quinze vereadores de Manhuaçu promoverão uma reunião simbólica do Legislativo Municipal, nas dependências da escola. 

Os alunos poderão conhecer o funcionamento da Câmara dos Vereadores e fazer perguntas aos legisladores.


PALESTRAS


A direção da "Maria de Lucca Pinto Coelho" está desenvolvendo com os alunos do segundo grau noturno palestras com membros do judiciário de Manhuaçu.

Estiveram no último dia 9, os Juízes Dr. Maurício Pinto Ferreira (1ª Vara Cível) e Dr. Edson Feital Leite (2ª Vara Cível) e ainda os promotores Dr. Octávio Martins Lopes e Dr. Richardson Brand.

Os quatro fizeram palestras para as turmas dos cursos de Magistério e Contabilidade. Segundo eles, muitas foram as perguntas sobre as ações da justiça e questões como violência policial e temas ligados especialmente à juventude.

Os palestrantes acharam muito boa a oportunidade que serviu para aproximar o judiciário dos jovens, mostrando que a justiça está no mesmo patamar e precisa dessa integração com a comunidade.


SALA DE INFORMÁTICA


Outra grande novidade informada pelo diretor Eduardo Portilho para esta semana de comemoração é o anúncio pela Secretaria de Estado de Educação de que a Escola Estadual Maria de Lucca Pinto Coelho terá uma Sala de Informática dotada de onze microcomputadores e impressoras, que permitirão que os alunos também recebam alguma prática na área.

Segundo Eduardo é uma grande conquista para a Escola Maria de Lucca. Ele espera estar com a sala de informática funcionando até o início do segundo semestre.

(Extraído de Tribuna do Leste, edição de 20 de Abril de 1997)








 

terça-feira, 15 de abril de 1997

Dívida de vinte anos pode deixar Manhuaçu sem Prefeito

Na última quinta-feira, 10/07, o prefeito Geraldo Perígolo, foi comunicado oficialmente pelo Desembargador Relator, Antônio Hélio Silva, que o município de Manhuaçu deve à firma José Pinheiro & Filhos Ltda, precatórios no valor de 1 milhão e 900 mil reais, e que, se no prazo de 30 dias não efetuar o pagamento, será efetivado o pedido de intervenção municipal.


A INTERVENÇÃO


Caso o município não venha a pagar a dívida até dia 10 de agosto, dia de São Lourenço, padroeiro de Manhuaçu, ou não aconteça qualquer fato relevante para que a Justiça paralise o processo, será efetivado o pedido de intervenção. O Governador do Estado, Eduardo Azeredo, cumprindo determinação da justiça, irá comunicar à Assembléia Legislativa, nomeando pessoa de sua confiança para dirigir os destinos de Manhuaçu, até o pagamento final da dívida.


A HISTÓRIA


Apesar de algumas notícias darem conta de que esta situação começara no governo Camilo Nacif, em 1978, foi mesmo em 1985 quando o então prefeito Fernando Maurílio Lopes realizou a abertura de uma rua (Alameda Elói Werner), que já existia como trilha de acesso aos Bairros São Vicente e Nossa Senhora Aparecida, não indenizando devidamente o proprietário, que não satisfeito com a ação passou a procurar maneiras de ressarcimento para os prejuízos, efetivamente ingressando na Justiça, em 1987, ainda no governo Fernando Maurílio Lopes.

Sem qualquer contestação por parte da prefeitura, o que é bastante estranho, mesmo com a Justiça estabelecendo os prazos devidos para qualquer embargo, o processo foi continuado. 

Em 1992, no governo Eduardo Xavier Neto, a Justiça determinou o pagamento dos precatórios ou a intervenção no município. À época foi efetuado o pagamento de 12 milhões de cruzeiros, como pagamento de parte desta dívida, constando inclusive nos autos do processo.

Em 16 de Junho de 1993, no governo Antônio Teodoro Dutra, foi depositada a quantia de 112 mil, 626 cruzeiros reais e 33 centavos, referente ao pagamento da dívida original, o que adiou mais uma vez a intervenção em Manhuaçu.

Em 1995, já no governo Sérgio Breder, ainda existia a possibilidade de intervenção, mas em 18 de abril daquele ano, o processo foi paralisado a pedido do autor, sendo reativado somente agora no dia 04 de abril de 1997. 

Neste período, de 1995 a 1996, o advogado da causa, Dr. Eli Vander Tavares, era assessor jurídico da prefeitura e Eduardo Bazém Pinheiro, uma das partes interessadas, veio a ser Chefe de Gabinete. Se tratou-se ou não de uma manobra política para aliviar o município naquele período, somente o tempo poderá dizer, o certo é que em 19 de abril de 1996, o governo Sérgio Breder com aprovação da Câmara Municipal, entregou a Eduardo Bazém, uma casa, situada na Rua Lafayette Vasconcelos Sabido, nº. 87, no valor de 80 mil reais para também amortizar a dívida. Tal pagamento não consta nos autos do processo.


A REPERCUSSÃO


Tão logo a sociedade foi informada, vários segmentos saíram em solidariedade ao prefeito Geraldo Perígolo. A associação de engenheiros, com 80 membros, estará nos próximos dias fazendo uma avaliação da área de 800 m², em razão da dívida de 01 milhão e 900 mil reais. Também o COAMMA estará se reunindo nesta semana para avaliar a situação e conclamar os presidentes de bairros a ajudar de alguma forma no êxito de evitar a intervenção. Os funcionários municipais, aterrorizados com a possibilidade de paralisação do município, estarão se mobilizando para uma ação de protesto contra a intervenção. Os 15 vereadores da Câmara Municipal já procuraram o Dr. Edson Feital, Juiz de Direito de Manhuaçu, visando o ingresso na Justiça com ação, e total apoio a Geraldo Perígolo.

O prefeito Geraldo Perígolo em declaração à nossa reportagem, disse ser impossível pagar os precatórios, pois a prefeitura está arrecadando apenas para manter o quadro de funcionários e quitar débitos de manutenção de seu funcionamento, como luz, telefone e etc. Além do mais, as contas da prefeitura estão abertas não só para a Justiça, tão bem como para qualquer interessado em conhecer essa verdade.


A SOLUÇÃO


Algumas pessoas levantam a tese de devolução do terreno para o antigo proprietário (desde que ele aceite), ou a entrega de um bem imóvel da prefeitura, mas o que vale tanto para a Justiça, não tem esse valor na realidade, e sem acordo entre as partes, Eduardo Bazém e prefeitura, ou sem uma rescisória por parte da Justiça, não existe outra saída, senão a intervenção.



(Publicado em Jornal Tribuna do Leste, ed. 13/07/1997)

Recuperandos da APAC Manhuaçu participam de curso de classificação de cafés especiais

Recuperandos da APAC Manhuaçu (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) participaram de um novo treinamento direcionado à área d...