domingo, 26 de junho de 2011

Meeiros de Café: Mineração e Escravatura (VII)

Eng Agr Ruy Gripp


Continuando com ‘Meeiros de Café’, de Vivaldo Barbosa, no histórico do café do entorno da "Serra do Caparaó", temos do Capítulo Dois, página 41 em diante:

"Nos anos Oitocentos, o café vai mudar todo esse panorama. O Brasil passa a ser o café. O café era Vale; o Vale o escravo. 

O Rio vai encarar o café com mais importância. Organizam-se viveiros de sementes e mudas, e são realizadas experiências na grande baixada do litoral, Mendanha, São Gonçalo, Magé, Itaboraí, Maricá.

Tropa e tropeiros sobem as serras e levam mudas para outro lado, Barra Mansa, Piraí, Pati de Alferes, Vassouras e Resende. Ai, o café encontra melhor hábitat até então experimentado, o vale do Paraíba região de tríplice fronteira, de tríplice domínio entre Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. Os engenhos de açúcar e as pastagens de criação de gado vão dar lugar à lavoura de café. 

Os mineiros já não acham ouro, abandonam a mineração, descem na direção do Paraíba e, à margem esquerda, plantam café. Trazem consigo o capital auferido nas minas, necessário para implantar e sustentar a lavoura de café. 

Em 1810, Resende, que se tornara Vila em 1801, já constitui grande centro irradiador de café para todo o vale e em direção a São Paulo. O café já firma presença sensível na economia fluminense. Para tanto, os Índios coroados, que defendiam valentemente seus antigos domínios e viviam perturbando a chegada do co na região, foram enfrentados e afinal confinados em uma aldeia. Seus rivais puris eram mais dóceis assimiláveis. Foram mais facilmente miscigenados.

No lado de São Paulo, o Vale foi também recebendo café. Em Guaratinguetá, o café foi plantado em 1802, registrando sua primeira colheita em 1806. 

Anteriormente, nas últimas décadas do século anterior, essa região estava fortemente voltada para os engenhos de cana-de-açúcar, gradativamente substituídos pelas lavouras de café. 

Já em 1825, o café constitui a principal produção da região. Estimula o plantio a sua proximidade do porto de Parati. Era só varar e descer a serra. No lombo de burros. 

Em 1830, o panorama apresentava-se inteiramente diferente: o café alcança posição dominadora na agricultura, na economia. A essa altura, em toda a baixada de Angra a Cabo Frio, especialmente em seus morros, cultiva-se café, como complementar ao engenho de açúcar e à aguardente. Somente a baixada campista resiste em sua vocação açucareira. São Gonçalo é o grande centro irradiador para o lado norte da baixada litorânea, P. 42. 

Já naquela época, o café alcança os grandes e belos vales afluentes à margem esquerda do Paraíba, os vale do Pomba, do Muriaé, do Carangola. 

Mercadante situa na década de 1830 o estabelecimento das primeiras fazendas nessas áreas, e sua chegada a Carangola, na década de 1850. Cantagalo, agora com suiços e alemães, toma-se o grande pólo irradiador do café para a região fluminense mais ao norte, para Minas e para a Serra do Caparaó. 

O panorama físico, econômico e social da região montanhosa e do Vale do Paraíba apresenta-se bem outro. As matas dão lugar às lavouras; e as grandes árvores, aos arbustos de café. O Rio de Janeiro rompe definitivamente seu destino de guardião da costa e volta- se para as entranhas de suas montanhas e para os vales de seus rios. 

Pelos meados do século, o hábito de tomar café no país era amplamente difundido; americanos e europeus já o consumiam em larga escala. 

O Vale do Paraíba representava o berço de sua grande produção. Daí cunhou-se a expressão: "O Brasil é o Vale". Ou melhor dizendo, "O Brasil é o café. O café e o Vale" Mas o Vale é o escravo", insiste Ricardo Sales. 

A década de 1850 representa a idade de ouro da produção de café no Vale. Na segunda metade do século, o café vai vicejar ainda melhor no Centro e Oeste de São Paulo e, nas últimas décadas, encontra outro importante hábitat: a Serra do Caparaó.

O Vale do Paraíba desempenhou especial papel histórico para o Brasil. Diante da decadência da mineração, propiciou ao país novo direcionamento em sua economia. O Brasil sai da crise do setor de mineração e retoma a prosperidade com o café no vale. Absorve a mão de obra que não encontrava mais trabalho nas minas. Não há dúvidas de que o Vale figurou como um dos suportes da economia da nova nação que surgia com a recente independência.

Paralelamente, desenha-se nova classe social, com estratos superiores e médios - o fazendeiro do café e, o nível mais alto, o baronato do café. 

Surgem os barões nas grandes fazendas do Vale, magnatas do café, senhores das terras e de escravos que formavam o espectro da classe dominante no país. 

Consolidou-se uma classe senhorial escravista, que participou da construção do Estado nacional, estendeu-se por todo o território do país e para quase todos os estratos sociais e diferentes ramos de atividade. A base residia nas grandes propriedades rurais, especialmente no Rio de Janeiro, a partir da Baixada Litorânea e Fluminense, até a região serrana e o vale. Tratava-se de um processo sustentado comercial e financeiramente pela praça do Rio, através dos grandes comerciantes, capitalistas que tinham seus grandes clientes nos senhores de escravos, proprietários das grandes fazendas. 

Enraizavam-se nos organismos do Estado, ocupavam espaços públicos, representavam a base do Partido Conservador, os Saquaremas. Tudo gente que vinha das minas, de Portugal, das ilhas e de outros pontos do país. Uma classe social que dominou a cena política da nova nação, um dos sustentáculos do novo país.

Observou-se que a fazenda de café do vale do Paraíba constituía uma unidade de produção e um estilo de vida.

O país alcançou grandes índices de produção e pode exportar grandes quantidades, gerando divisas e colocando-se no cenário do comércio internacional.

Na Guerra do Paraguai (1865), muitos escravos foram mobilizados para as necessidades da guerra. Os escravos da nação e da Coroa foram libertos para participar da luta, e prêmios oferecidos a quem oferecesse escravos libertos para a Guerra, que contou com a presença massiva de negros. Tal participação impressionou muitos observadores estrangeiros. 

A instabilidade era grande, a insegurança maior ainda; fugas, rebeliões de escravos em todo canto. Desde a década de 30 e 40, ocorriam muitas manifestações de rebeldia, o que levava ao temor de insurreição geral. Na década de 60 e em anos anteriores, ocorreram, atos de violência, assassinatos e formação de quilombos. Em 1865, registraram-se manifestações abolicionistas, primeiramente por parte dos estudantes”.


Publicado no Jornal Tribuna do Leste, em 26 de junho de 2011, p. 29.



domingo, 19 de junho de 2011

Meeiros de Café: Em busca do Café (VI)

Eng Agr Ruy Gripp


Continuando com "Medeiros de Café', de Vivaldo Barbosa, obra que retrata a história da colonização desta parte do Brasil entre MG/ES, que engrandece o autor e nossa região cafeeira do entorno da Serra do Caparaó, temos do Capítulo UM, página 31 em diante: 

Assim, os puris viveram tranquilos no Caparaó por mais tempo. Até que, pelo início dos anos Oitocentos, começou a chegar gente, proveniente das minas que por lá já se esgotavam. 

Anteriormente, algumas pessoas procuraram subir o Rio Doce, entrar pelo Manhuaçu e seus afluentes, especialmente pelo Rio José Pedro. 

Vinham à procura de minas de ouro, mas nada acharam. Apenas algumas atividades de faiscação que não rendiam a ponto de gerar algo permanente. 

O bandeirante José Pedro subiu o rio que leva o seu nome, até a altura de Santana, hoje Pequiá, e ali deixou inscrito numa grossa árvore: "Até aqui chegou José Pedro”. 

Muitos vinham e voltavam, certamente deixando descendentes nas barrigas das índias. Outros ficaram, ou porque se enamoraram perdidamente das índias ou para cultivar uma terra melhor, ou tão-somente para desfrutar dessas paisagens tão bonitas e dessas águas tão cristalinas que descem lá do alto da Serra do Caparaó, P 31.


As primeiras penetrações permanentes: Do lado oeste, da região das minas, em 1841 partiram alguns exploradores do comércio de poaia, vindos de Viçosa, segundo Mercadante. 

Em 1.848, trazendo famílias e gado, vieram três aventureiros para permanecer no lugar. Um deles, João Caetano do Nascimento, abriu a mata, iniciou o plantio e atraiu parentes e amigos. Iniciou um povoado, que seria em breve a paróquia de São João de Caratinga.

Em 1.843, a Abre Campo e Manhuaçu, chega ‘Dutrão’. Figura tão própria e característica, falaremos dele mais adiante. 

Em 1856, o Pe. João Mendes Medeiros obtém a sesmaria de Vargem Alegre, às margens do Rio Piranga. Constroi uma capela, atrai pessoas. A sesmaria logo cresce, em virtude de sua posição estratégica; em 1857, já é Vila, em 1863, instala a Câmara e emancipa de Mariana, como Ponte Nova. 

Aberto o vale do Rio Doce para exploração, gente começou a subir o rio - embora este seja não navegåvel em muitos pontos, o que dificulta sua função de escoador da produção - e seus afluentes, como o Manhuaçu, e em especial afluente deste último, o no José Pedro, que dá na Serra do Caparaó. 

As águas da Serra do Caparaó descem desabaladas por sobre as pedras do Rio José Pedro e de seus afluentes, o no Claro e o rio Braz, à procura de um no. E o acham no Rio Doce. Rio Doce? Todos os rios o são. A mata foi sendo derrubada, áreas abertas, fazendas estabelecidas.

Foi construída a Fazenda Velha, dos Almeida, a primeira da região, às margens do Rio José Pedro, junto de Santana, hoje Pequiá. 

Pelo lado do Espírito Santo, igualmente vem vindo gente. São dignas de nota a Fazenda da Providência, para a qual vieram os Vieira, e a Fazenda dos Nunes, que veio a ser de Joaquim de Souza Vieira, ambas já demolidas, além da Fazenda do Fama, construção especial para a época, ainda hoje de pé. Foi construída por Leocádio, que ali chegou vindo do interior do Espírito Santo.

Pelo sul, através de Carangola, veio gente do Vale do Paraíba e da região de Friburgo e Cantagalo. Vieram os Sanglard, os alemães para Jequitibá, a partir dos Eller; os Vieira para Santana; famílias da colônia suiça; e, mais tarde, os Frossard. Estes últimos, inicialmente para Carangola/ Divino, depois para cá. 

A história da vinda dessas famílias e da ocupação da área será relatada na segunda parte do livro. 


Em Busca do Café (P.37) 


“O que motivava a penetração das pessoas nessas áreas anteriormente proibidas era o cultivo do café. O café é cultura permanente, contínua; uma colheita por ano, após quatro anos de plantio, cada lavoura dura pelo menos vinte anos. Exige a fixidez do homem na terra. O café exigia que as pessoas viessem para ficar. 

De outro lado, as demais regiões do país não eram e não são apropriadas para o café. O Sul não o é, em razão do frio excessivo que mata o pé de café com geadas.

A região de mineração também não seria própria. Aliás, esta última região somente se presta mesmo a essa atividade. Primeiro, o ouro. Agora, o ferro. O cerrado, com seis meses de seca, igualmente não seria adequado. O Nordeste era apropriado para a cana-de-açúcar, assim como a baixada campista. Nem a região amazônica seria conveniente.

O Vale do Paraíba; o Sul de Minas; o centro e oeste de São Paulo; a Zona restrita ou Proibida, a Zona da Mata, bem com a Serra Caparaó e adjacências, é que seriam, de fato, bem apropriados para o cultivo do café. 

O clima ameno, terras frescas e virgens, matas para serem derrubadas. Mais tarde, o Vale do Paraíba veio demonstrar que, comparativamente, não era tão propício ao cultivo do café quanto às áreas mais altas da Serra do Caparaó e da Mata. 

O Vale do Paraíba representou o centro de produção e de erradicação do café. Ali, no final dos anos Setecentos, a partir de 1790, já aparece o café, que atinge sua expansão máxima aproximadamente entre 1850 e 1880, quando entra em decadência. 

No século XIX, proclamava-se que o Brasil era o café, e o café era o vale. E o vale era o escravo, acrescentou Ricardo Sales, P. 37. 

Embora a exploração do café no Vale do Paraíba tenha alcançado extraordinário êxito, contribuindo para engrenar o país em uma atividade econômica altamente rentável, e salvando por conseguinte a economia nacional - em declínio, em virtude da queda da mineração -, os solos do Vale do Paraíba não eram os mais propícios para a agricultura em geral.

Eram terras arenosas e argilosas, que produziam cafezais florescentes; porém, sua fertilidade era efêmera. As matas tinham pouca matéria orgânica, que se esvaia nas terras porosas e era levada pelas águas, em vez de ficar retida no solo.

Segundo Orlando Valverde, a Serra do Caparaó tem montanhas mais elevadas, que permitem o cultivo entre 800-900 m. e 1.200 m de altitude, o ponto ideal para a produção de café. 

Como o café é originário dos planaltos tropicais elevados da Abissínia, aqui encontrou seu melhor habitat. A região está situada entre os paralelos 20º.15” de latitude sul. Tais situações de latitude e altitude explicam a ausência de geada.

Ademais, as terras estavam abundantes e sem dono. Atrativo sem igual, P. 40.

Nos anos Setecentos, o país - Brasil e Portugal - foi tomado pela febre do Ouro. Toda essa região do Leste viveu em função da mineração - O Rio de Janeiro e o Espírito Santo situam-se na sua costa. 

De Angra dos Reis a Campos e Vitória, vivia-se em torno do engenho de açúcar, da aguardente e de outras poucas coisas. 

A missão da gente do Rio e do Espírito Santo era proteger a costa brasileira contra os invasores. O Rio servia, ainda, de escoadouro do ouro das Minas para Portugal. 

A partir das montanhas, havia um grande vazio que cobria todo o vale do Paraíba e a região montanhosa. 

Às margens tanto do Caminho Velho quanto do Caminho Novo, apenas aldeotas em Barra Mansa, Paraíba do Sul e outras”. 


Publicado no Jornal Tribuna do Leste, em 19 de junho de 2011, P. 27.


Veja também: Autor de Manhumirim lança livro Meeiros de Café em Nova Friburgo | Thomaz Júnior Comunicação (blogdothomazjr.blogspot.com)







domingo, 12 de junho de 2011

Meeiros de Café: A abertura pelo Espírito Santo (V)

Continuando com ‘Meeiros de Café’, de Vivaldo Barbosa, obra que retrata a história da colonização desta parte do Brasil entre MG/ ES, que engrandece o autor e nossa região cafeeira do entorno da "Serra do Caparaó", temos do Capítulo UM, página 27 em diante: 

"Com a queda na produção das minas, não mais era necessário temer o contrabando, pois pouco ouro sobrava, nem mais sentido havia em temer franceses ou holandeses. Já não era lógico proibir o descaminho do que pouco existia. As Áreas Proibidas não mais faziam sentido. 

A tradição popular da região registra a presença de alguns brancos já na última década dos anos Setecentos. Seriam familiares dos inconfidentes, os quais, temerosos do que lhes poderia acontecer, embrenharam-se pelas matas e se acomodaram nessa região desabitada e longínqua da Serra do Caparaó. Um destes, da família Teixeira, radicada na antiga Cachoeirinha, hoje Irupi, Espirito Santo, casou-se com a filha de Nominato Fidelis, residente nas cercanias de Pequiá. 

De acordo com informação transmitida por antepassados dos Teixeira, a família era parente direta de Tiradentes. 

Já em 1807, o governador de Minas estabelece um quartel perto do Peçanha, às margens do Suaçuí, afluente do Rio Doce. Mercadante destaca, ainda, que nesta época o Rio Jequitinhonha recebe canoas com algodão das Minas Novas em direção ao litoral. 

A fim de encurtar o caminho, foi aberta uma estrada para trazer gado da Província de Minas para Campos, através do Rio Pomba, evitando a passagem pelo Rio de Janeiro, P. 28.

A Abertura pelo Espírito Santo - Reconhecendo-se o bom senso de que o escoamento das riquezas das minas e das regiões circunvizinhas seria mais bem conduzidas pelo Espírito Santo, e não pelo Rio, pela Bahia ou por São Paulo, foi realizada a maior tentativa de abrir as entranhas da Zona Proibida e de melhor revelar aos olhos do homem branco a Serra do Caparaó, a partir da abertura da estrada que viria de Vitória à Vila Rica. 

Até então, aos olhos dos portugueses, a missão do Espírito Santo consistia em defender a costa. Era proibido deslocar-se para o interior. Alvará de 1710 proíbe o Espírito Santo de abrir estradas em direção a Minas Gerais. O governo português alimentava dupla preocupação, determinante desta estratégia, como já referido.

De um lado, o contrabando do ouro diretamente de Vila Rica ao porto de Vitória, o mais curto caminho. De outro, a possibilidade de franceses, holandeses ou quaisquer outros entrarem por Vitória e atingirem Vila Rica, apossando-se das minas. Sem qualquer caminho, sem qualquer pessoa na área, ser-lhes-ia praticamente impossível penetrar na densa floresta e atravessar as elevadas montanhas para chegar à zona do ouro. Levaria tempo. Poderiam ser detidos.

Os historiadores registram o fato de que, por essa ocasião, a economia do Espírito Santo mostrava-se muito precária, muito pobre. Igual registro é feito por ilustres e famosos visitantes que percorreram o Brasil naquele período, como Weid e Saint Hilaire. 

A economia limitava-se a alguns engenhos de cana-de-açúcar e currais de criação de gado. Falava-se em pobreza e miséria de sua população. Era necessário explorar o interior, explorar o Rio Doce e abrir comunicação com Minas Gerais. 

A navegação do Rio Doce era proibida. O Alvará de 1733 reiterou: qualquer pessoa, sob qualquer pretexto, estava proibida de passar pelo rio Doce. 

Em 1769, o ouvidor do Espírito Santo prendeu um capitão de Bandeira que ignorara a ordem do Alvará, proibindo-o de ali voltar. Por ocasião da Independência, a economia do Espírito Santo apresentava-se atrofiada; o estado, despovoado, não tinha contato com as Minas.

Ao alvorecer do novo século, a metrópole dá sinais de mudança de orientação. 

Em 1800, o novo governador da Bahia, Silva Pontes, ao qual o Espírito Santo estava subordinado, chega com a missão de ‘abertura e navegação do rio Doce’. Nesse mesmo ano, faz a demarcação de divisas Minas Gerais. 

Com a presença da família real no Brasil, o Espírito Santo obtém sua autonomia (1811). A capitania do Espírito Santo havia ficado sob domínio dos descendentes do donatário Fernandes Tourinho, passando mais tarde ao patrimônio régio, ficando subordinado à Bahia.

Inaugurou-se uma era empreendedora com o novo governador, Francisco Alberto Rubin, nomeado em 1812, o qual realiza administração dinâmica e criativa. 

Em 1813, estabelece uma colônia de açorianos em Viana. 

Em 1814, Rubin concebia o plano da construção de uma estrada para ligar Viana a Vila Rica. 

D. João VI, por Alvará de 1815, permitiu a abertura da estrada, iniciada em seguida. O trabalho foi lento. As dificuldades eram imensas: pedras colossais, serras íngremes, ataques de índios que procuravam preservar seus domínios da invasão do branco. 

Abria-se a estrada e estabelecia-se um quartel ao longo de seu trecho, de três em três léguas. A obra veio vindo lentamente, penetrou na Serra do Caparaó, atravessou o rio Pardo e recebeu o nome de São João, em homenagem a D. João VI, mais tarde denominada de São João do Príncipe, em homenagem ao nascimento de Pedro II-, no início da subida da serra, para atingir o Pico da Bandeira. Ali foi fundado um quartel. Em Manhumirim, a estrada percorria a Serra dos Correia, o Ouro, rio Manhuaçu e Casca, passava pela Ponte Nova, e chegava a Vila Rica. 

Segundo relato de Basílio Carvalho Daemon, a estrada era prevista em 72 léguas, e foi incumbido de sua abertura o capitão do Corpo de Pedestres, Ignácio Pereira Duarte Carneiro. Os registros informam que, no ano de 1817, haviam sido abertas 10 léguas, de Vila do Viana até o Quartel de Ourém.

Registram os historiadores a passagem, na estrada, em 1820, da primeira bolada, procedente das pastagens de Minas Gerais. 

Caio Prado Jr. Observou Caio que o gado de Minas foi a principal razão para a construção da estrada. Em face da baixa população e da pobreza, havia falta de consumo para a grande quantidade de gado que chegava e o comércio não prosperou. A estrada foi abandonada. 

Em 1833, é reaberta pelo lado do Espírito Santo.

As margens dessa a estrada e dos rios que cortava, fazendas foram se estabelecendo, povoados criados, capelas erguidas. Por seu leito, foi chegando gente à Serra do Caparaó. E foi chegando também o café. 

O ilustre visitante e grande analista Maximiniano, príncipe de Wied Neuwied, conheceu o café na Fazenda Muribeca, em Cachoeiro do Itapemirim, em 1816.

Os habitantes originais - desde tempos imemoriais, os puris foram os povos que habitavam essa região do Caparaó. Certamente viveram ali com mais tranquilidade do que seus parentes tupis na costa do Espírito Santo ou na região das minas, onde a presença do branco europeu português veio a constituir enorme fator perturbador na vida daquelas comunidades indígenas. Com estas, os brancos se misturaram, se miscigenaram, dominando-as e submetendo-as. 

Os negros escravos foram também outra raça a ter contato com os índios, embora de maneira diferente. Mas igualmente se misturaram e se miscigenaram.

Nessa região, porém, tal processo levou mais tempo. Os puris foram poupados em algumas gerações. Ali era a Área Proibida. Por ali não era possível a ninguém se estabelecer, ter casa para morar, ou abrir área para trabalhar a terra. Nem por ali se podia passar. Pois era exatamente por ali, por sobre o Pirapetinga, que era possível traçar o caminho mais curto entre as minas de Vila Rica e o porto de Vitória, e de lá para Portugal, evitando o pagamento do quinto do ouro achado e garimpado”.


Publicado no Jornal Tribuna do Leste, em 12 de junho de 2011, p. 33.


Veja também: Autor de Manhumirim lança livro Meeiros de Café em Nova Friburgo | Thomaz Júnior Comunicação (blogdothomazjr.blogspot.com)




sábado, 11 de junho de 2011

Meeiros de Café: Primeiras penetrações na zona proibida (IV)

Eng Agr Ruy Gripp


Continuando com ‘Meeiros de Café’, de Vivaldo Barbosa, obra que retrata a história da colonização desta parte do Brasil entre MG/ ES, que engrandece o autor e nossa região cafeeira do entorno da ‘Serra do Caparaó’, temos do Capítulo UM: 

A produção de ouro atinge seu auge em 1725, e assim permanece até 1785 quando entra em franca decadência. A Inconfidência se dá no clima dessa decadência, diante da derrama que a Coroa achou necessária para reforço de seu tesouro, em face da queda na produção.

Em 1750, o precioso metal alcançou produção extra para socorrer a reconstrução de Lisboa, destruída por incêndio no chamado "subsídio voluntário”, que durou dez anos.

No auge da produção, trabalhavam nas minas cerca de 130 mil pessoas, das quais 95 mil eram escravos. Estes foram especialmente buscados no Congo, em cujas ricas minas haviam sido treinados para determinada técnica de escavar os túneis sem provocar desabamento. Calcula-se que tenham sido extraídas 600 toneladas de ouro das minas de Vila Rica, fora o contrabando e o que saia nos ‘santos de pau oco’.

"A exploração das ricas minas de ouro da região de Vila Rica era de caráter privado, realizado por particulares. O governo português limitava-se a emitir os alvarás de concessão para exploração das minas. E cobrava o imposto decorrente da exploração: 20% do produto. Era o imposto do quinto, isto é, a quinta parte pertencia à Coroa Portuguesa. Para tanto, o governo controlava as casas de peso e de fundição, bem como os caminhos pelos quais poderia se escoar o contrabando, P. 22.

Do seu quinto, o governo português cobria as despesas na Colônia e transportava o grosso para Portugal. 

Os mineradores particulares portugueses levavam sua parte diretamente para Portugal ou a vendiam aos comerciantes portugueses.

Muitos desses mineradores foram ficando na região com suas famílias ao longo do século, assim como os paulistas e os demais que vieram de outras partes do país ajudaram a construir as formidáveis igrejas com suas belas obras de arte do nosso barroco, e lá colocaram parte do ouro. Forjaram nova e diversificada sociedade, a maior e mais forte do país, com gente vinda de toda parte, constituíram-se nas elites mais importantes da nova terra, nos âmbitos econômico, cultural e político. Fizeram o mais belo movimento da história do país até então, Inconfidência Mineira, sob a liderança de nosso mártir maior, o nosso Tiradentes. 

Minas transforma-se na mais populosa e mais rica província da Colônia. A economia da mineração articula-se com outras áreas.  Importam-se cavalos, burros e mulas criados lá nos pampas de São Pedro do Rio Grande. Consome-se o gado produzido em outras áreas de Minas, do vale de São Francisco e de Pemambuco. Consome-se o açúcar produzido nos engenhos espalhados pela costa, em maior parte plantados no Nordeste. 

Mas o produto da mineração não permaneceu em Portugal. Dali passou à Inglaterra, para comprar manufaturas inglesas. Consumiu-se na mediocridade das elites portuguesas. Lamounier lembra o historiador português Antônio Sérgio, que descreveu a período do reinado de D. João V na primeira metade dos Setecentos como uma imitação de Luís XIV, um "delírio de luxo beato às custas das minas do Brasil”, P24. 

É preciso finalmente dizer que, embora boa parte do ouro tenha se esvaído para Portugal, e de lá à Inglaterra, a economia da mineração alimentou uma economia de porte e ajudou a forjar uma sociedade de nível de importância tamanha, com profissionais, intelectuais, artistas, proprietários, comerciantes, que só podia dar no que deu, pouco tempo depois: a Independência e a criação de um país. 

Independência que veio na esteira de ‘levantes e sedições’, “proliferação dos quilombos", "andanças desordenadas de desocupados", revoltas "surdas, constantes, disseminadas cotidianas", no dizer de Laura de Mello e Souza. Lamounier lista as revoltas abertas: "Guerra dos Emboabas (1707-1709) no sertão do Rio das Velhas (1717) revoltas de Pitangui e Vila Rica (1717-1720) e do sertão do São Francisco (1736). E a mais bela delas: Inconfidência em 1789.


Primeiras e efêmeras penetrações na Zona Proibida


Os índios botocudos tiveram sua vida infernizada pelos mineradores da região de Vila Rica. Eram índios valentes, senhores de suas áreas, com consciência de seu domínio sobre estas. Sentiram-se agredidos pela presença do homem banco em suas terras, a tudo cavoucando, em tudo mandando e chegando a forçar muitos deles ao trabalho escravo. Procuraram reagir em seus brios e em seus direitos, motivados por uma tênue noção de soberania. Foram dando o troco, e passaram a infernizar a vida dos mineradores.

De outro lado, em conflito sobre áreas de domínio com os puris, os botocudos, mais valentes, empurram os puris para o leste, mais para dentro da mata, mais para o Caparaó. 

O governador da Província, em 1734, incumbiu o mestre-de-campo Matias Barbosa de organizar uma bandeira para descer o Rio Doce e combater os botocudos. Ao mesmo tempo, mandou abrir uma picada na direção de Cuieté. Fundou o Presídio de Abre Campo para indígenas, o qual durou pouco. Como a região das grandes minas situava-se em uma das cabeceiras do Rio Doce e de seus afluentes, a área em torno de Vila Rica, acreditou-se que mais abaixo no curso desses rios, igualmente haveria de se encontrar ouro.

Algumas expedições saíram com essa justificativa. Até que, em 1758, a expedição chefiada por João Peçanha Falcão, descendo pelos rios Suaçuí e Vermelho e Córrego das Almas, descobriu ouro em aluvião. Foi o Descoberto do Peçanha, que atraiu muita gente e fez nascer um povoado.

No sentido oposto, vindas do litoral pela foz do Rio Doce e subindo seu curso, muitas tentativas se fizeram para descobrir ouro em seu leito. 

Algumas faiscações ocorreram nas margens dos rios Manhuaçu e Caratinga (Cuieté). É necessário ter em mente que essas penetrações possibilitavam contatos com os índios. Os aventureiros iam embora, mas deixavam para trás muitas índias engravidadas. 


A Zona Proibida torna-se livre


Em mapa da Capitania de Minas Gerais de 1798, reproduzida na pågina 36, verifica-se o imenso vazio desde as margens à esquerda do Rio Paraíba, os vales dos rios Pomba, Muriaé e Carangoła, passando pela Serra do Caparaó até o vale do Rio Doce e daí para cima chegando ao Rio São Mateus, não há um povoado sequer. De Mariana, nos limites da zona de mineração, em direção ao Espírito Santo, as únicas menções existentes são a Abre Campo e a Cuieté.

Em 1733, como referido, ficou proibida, por Alvará, a abertura de novas picadas na capitania de Minas Gerais. Já desde o início dos anos Setecentos, começara a produção de ouro, que se arrastou até o final do século. Por aproximadamente sessenta anos, entre 1725 e 1785, a produção é intensa, em grandes quantidades. 

Os caminhos de carregamento do ouro poderiam se fazer para a Bahia e para o Rio de Janeiro. Nesses caminhos, o governo tinha pontos de fiscalização e controle. 

Mais tarde, ao começar a escassear a extração, o caminho para a Bahia também ficou proibido. 

Somente era permitido o caminho para o Rio de Janeiro, pois a fiscalização tinha de ser eficiente, nada podia escapar, uma vez que os recursos do erário estavam ficando magros. Também pudera, todo o ouro que chegava a Portugal ia parar na Inglaterra para comprar tecidos e outros produtos da indústria inglesa. 

Os acordos feitos com a Inglaterra praticamente impossibilitavam Portugal de estabelecer indústria e, por consequência, o Brasil. Aliás, no decorrer dos anos Setecentos, a Inglaterra passou a deter, na prática, o monopólio da indústria na Europa, fato que se acentuou ainda mais com o estourar da Revolução Industrial, subsequente à descoberta da máquina à vapor, em 1760. 

Porém, com a decadência da mineração, cuja produção caiu fortemente a partir de 1785 e do começo dos anos Oitocentos, já no século XIX ocorre a penetração da Zona Proibida e o homem branco - brasileiro e português - vai chegando. 


Publicado no Jornal Tribuna do Leste, em 05 de junho de 2011, p. 33.


Veja também: Autor de Manhumirim lança livro Meeiros de Café em Nova Friburgo | Thomaz Júnior Comunicação (blogdothomazjr.blogspot.com)


sexta-feira, 10 de junho de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

FACIG comemora Dia Mundial do Meio Ambiente

 A FACIG (Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu) realizou, no último dia 06/06, evento em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, no auditório da instituição. O evento foi organizado pela coordenadora do Curso de Gestão Ambiental da faculdade, Professora Jeane de F. Cunha Brandão.

No primeiro momento, a Bióloga Maria Lúcia G. Dutra Rocha ministrou palestra com o tema “Vigilância Sanitária: Promoção e Proteção à Saúde Pública”. Logo após, os alunos do 3° período do curso de Gestão Ambiental apresentaram palestra sobre Resíduos Sólidos. Participaram do evento, alunos dos cursos de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Matemática, Marketing, Gestão Ambiental, Construções de Edifícios, Administração e Ciências Contábeis.

A coordenadora explicou para o público a importância da divulgação de temas que tratam do destino dos resíduos sólidos, tendo em vista a aprovação do Projeto de Lei que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, em dois de agosto de 2010.

O referido Projeto responsabiliza as empresas pelo recolhimento de produtos descartáveis (logística reversa), determina que a população faça a separação do lixo doméstico para a coleta seletiva e proíbe a criação ou manutenção de lixões onde os resíduos são lançados a céu aberto. Neste contexto, as prefeituras terão que construir aterros sanitários ambientalmente sustentáveis, onde só poderão ser depositados resíduos que não podem ser reaproveitados. O prazo para que todos os municípios se adéquem à nova Lei é de quatro anos, a contar da data de aprovação.

Os alunos do curso de Gestão Ambiental, Vitor Vargas, Geórgia Hubner, Marcela da Cruz e Lázaro Lima apresentaram dados relevantes sobre quantidade de lixo produzido no Brasil e em Manhuaçu, bem como reciclagem no mundo e vantagens econômicas obtidas com esse processo.

Os alunos João Paulo Ruocco e Patrícia da Mata apresentaram um vídeo, elaborado pela turma do 3° período, sobre o aterro controlado de Manhuaçu. Em seguida a aluna, Juliana Regina Cabral orientou como se deve separar e acondicionar os resíduos gerados em casa, como descartar medicamentos e óleo de cozinha usado. Por fim, a aluna Danila Taris desfilou com uma roupa de material reciclado, confeccionada pela estilista Rita Santos.    

“Parabenizo os alunos do Curso de Gestão Ambiental da FACIG por organizarem e apresentarem uma palestra com tema tão relevante para a sociedade de forma simples e clara. Além do ótimo conteúdo apresentado me chamou a atenção a união, dedicação e seriedade com que todos eles desenvolveram o trabalho”, comentou a Coordenadora Jeane Brandão.  

 

 

LEGENDAS:

(Foto 1.jpg): Maria Lúcia ministrou palestra com o tema: Vigilância Sanitária: Promoção e Proteção à Saúde Pública;

(Foto 3.jpg): Estudante orienta sobre como acondicionar os resíduos gerados em casa.








quarta-feira, 8 de junho de 2011

Festa Junina no CEM

Junho, mês de quadrilha, canjicão, bandeirolas e muita animação. O Arraiá do CEM (Centro Educacional de Manhuaçu) realizado no último sábado, 04/06, trouxe o melhor da tradição das festas juninas, incentivando o convívio entre os alunos, pais e professores, com especial programação que contou com apresentações das turmas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.

O espaço cultural do CEM foi totalmente decorado, com bandeirolas e enfeites diversos. As crianças e seus familiares se divertiram nas barracas de pescaria, toca do coelho e outras brincadeiras, além das delícias de inverno oferecidas.

As apresentações de quadrilha dos pequeninos foram atentamente acompanhadas pelos pais. Com roupas coloridas, as crianças dançaram e encenaram o famoso casamento do Jeca.

A programação contou ainda com o sorteio de uma bicicleta e a descontração dos professores que, no encerramento, entraram na roda da festa junina.

(Thomaz Júnior/ Assessoria de Comunicação CEM)



































 

 

 

 

 

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