Eng Agr Ruy Gripp
Continuando com "Medeiros de Café', de Vivaldo Barbosa, obra que retrata a história da colonização desta parte do Brasil entre MG/ES, que engrandece o autor e nossa região cafeeira do entorno da Serra do Caparaó, temos do Capítulo UM, página 31 em diante:
Assim, os puris viveram tranquilos no Caparaó por mais tempo. Até que, pelo início dos anos Oitocentos, começou a chegar gente, proveniente das minas que por lá já se esgotavam.
Anteriormente, algumas pessoas procuraram subir o Rio Doce, entrar pelo Manhuaçu e seus afluentes, especialmente pelo Rio José Pedro.
Vinham à procura de minas de ouro, mas nada acharam. Apenas algumas atividades de faiscação que não rendiam a ponto de gerar algo permanente.
O bandeirante José Pedro subiu o rio que leva o seu nome, até a altura de Santana, hoje Pequiá, e ali deixou inscrito numa grossa árvore: "Até aqui chegou José Pedro”.
Muitos vinham e voltavam, certamente deixando descendentes nas barrigas das índias. Outros ficaram, ou porque se enamoraram perdidamente das índias ou para cultivar uma terra melhor, ou tão-somente para desfrutar dessas paisagens tão bonitas e dessas águas tão cristalinas que descem lá do alto da Serra do Caparaó, P 31.
As primeiras penetrações permanentes: Do lado oeste, da região das minas, em 1841 partiram alguns exploradores do comércio de poaia, vindos de Viçosa, segundo Mercadante.
Em 1.848, trazendo famílias e gado, vieram três aventureiros para permanecer no lugar. Um deles, João Caetano do Nascimento, abriu a mata, iniciou o plantio e atraiu parentes e amigos. Iniciou um povoado, que seria em breve a paróquia de São João de Caratinga.
Em 1.843, a Abre Campo e Manhuaçu, chega ‘Dutrão’. Figura tão própria e característica, falaremos dele mais adiante.
Em 1856, o Pe. João Mendes Medeiros obtém a sesmaria de Vargem Alegre, às margens do Rio Piranga. Constroi uma capela, atrai pessoas. A sesmaria logo cresce, em virtude de sua posição estratégica; em 1857, já é Vila, em 1863, instala a Câmara e emancipa de Mariana, como Ponte Nova.
Aberto o vale do Rio Doce para exploração, gente começou a subir o rio - embora este seja não navegåvel em muitos pontos, o que dificulta sua função de escoador da produção - e seus afluentes, como o Manhuaçu, e em especial afluente deste último, o no José Pedro, que dá na Serra do Caparaó.
As águas da Serra do Caparaó descem desabaladas por sobre as pedras do Rio José Pedro e de seus afluentes, o no Claro e o rio Braz, à procura de um no. E o acham no Rio Doce. Rio Doce? Todos os rios o são. A mata foi sendo derrubada, áreas abertas, fazendas estabelecidas.
Foi construída a Fazenda Velha, dos Almeida, a primeira da região, às margens do Rio José Pedro, junto de Santana, hoje Pequiá.
Pelo lado do Espírito Santo, igualmente vem vindo gente. São dignas de nota a Fazenda da Providência, para a qual vieram os Vieira, e a Fazenda dos Nunes, que veio a ser de Joaquim de Souza Vieira, ambas já demolidas, além da Fazenda do Fama, construção especial para a época, ainda hoje de pé. Foi construída por Leocádio, que ali chegou vindo do interior do Espírito Santo.
Pelo sul, através de Carangola, veio gente do Vale do Paraíba e da região de Friburgo e Cantagalo. Vieram os Sanglard, os alemães para Jequitibá, a partir dos Eller; os Vieira para Santana; famílias da colônia suiça; e, mais tarde, os Frossard. Estes últimos, inicialmente para Carangola/ Divino, depois para cá.
A história da vinda dessas famílias e da ocupação da área será relatada na segunda parte do livro.
Em Busca do Café (P.37)
“O que motivava a penetração das pessoas nessas áreas anteriormente proibidas era o cultivo do café. O café é cultura permanente, contínua; uma colheita por ano, após quatro anos de plantio, cada lavoura dura pelo menos vinte anos. Exige a fixidez do homem na terra. O café exigia que as pessoas viessem para ficar.
De outro lado, as demais regiões do país não eram e não são apropriadas para o café. O Sul não o é, em razão do frio excessivo que mata o pé de café com geadas.
A região de mineração também não seria própria. Aliás, esta última região somente se presta mesmo a essa atividade. Primeiro, o ouro. Agora, o ferro. O cerrado, com seis meses de seca, igualmente não seria adequado. O Nordeste era apropriado para a cana-de-açúcar, assim como a baixada campista. Nem a região amazônica seria conveniente.
O Vale do Paraíba; o Sul de Minas; o centro e oeste de São Paulo; a Zona restrita ou Proibida, a Zona da Mata, bem com a Serra Caparaó e adjacências, é que seriam, de fato, bem apropriados para o cultivo do café.
O clima ameno, terras frescas e virgens, matas para serem derrubadas. Mais tarde, o Vale do Paraíba veio demonstrar que, comparativamente, não era tão propício ao cultivo do café quanto às áreas mais altas da Serra do Caparaó e da Mata.
O Vale do Paraíba representou o centro de produção e de erradicação do café. Ali, no final dos anos Setecentos, a partir de 1790, já aparece o café, que atinge sua expansão máxima aproximadamente entre 1850 e 1880, quando entra em decadência.
No século XIX, proclamava-se que o Brasil era o café, e o café era o vale. E o vale era o escravo, acrescentou Ricardo Sales, P. 37.
Embora a exploração do café no Vale do Paraíba tenha alcançado extraordinário êxito, contribuindo para engrenar o país em uma atividade econômica altamente rentável, e salvando por conseguinte a economia nacional - em declínio, em virtude da queda da mineração -, os solos do Vale do Paraíba não eram os mais propícios para a agricultura em geral.
Eram terras arenosas e argilosas, que produziam cafezais florescentes; porém, sua fertilidade era efêmera. As matas tinham pouca matéria orgânica, que se esvaia nas terras porosas e era levada pelas águas, em vez de ficar retida no solo.
Segundo Orlando Valverde, a Serra do Caparaó tem montanhas mais elevadas, que permitem o cultivo entre 800-900 m. e 1.200 m de altitude, o ponto ideal para a produção de café.
Como o café é originário dos planaltos tropicais elevados da Abissínia, aqui encontrou seu melhor habitat. A região está situada entre os paralelos 20º.15” de latitude sul. Tais situações de latitude e altitude explicam a ausência de geada.
Ademais, as terras estavam abundantes e sem dono. Atrativo sem igual, P. 40.
Nos anos Setecentos, o país - Brasil e Portugal - foi tomado pela febre do Ouro. Toda essa região do Leste viveu em função da mineração - O Rio de Janeiro e o Espírito Santo situam-se na sua costa.
De Angra dos Reis a Campos e Vitória, vivia-se em torno do engenho de açúcar, da aguardente e de outras poucas coisas.
A missão da gente do Rio e do Espírito Santo era proteger a costa brasileira contra os invasores. O Rio servia, ainda, de escoadouro do ouro das Minas para Portugal.
A partir das montanhas, havia um grande vazio que cobria todo o vale do Paraíba e a região montanhosa.
Às margens tanto do Caminho Velho quanto do Caminho Novo, apenas aldeotas em Barra Mansa, Paraíba do Sul e outras”.
Publicado no Jornal Tribuna do Leste, em 19 de junho de 2011, P. 27.
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