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foto: Acervo do Patrimônio Histórico do Município |
Instalado na Praça 05 de Novembro, no centro de Manhuaçu, o busto do Bandeirante foi inaugurado no feriado do padroeiro São Lourenço, em 10 de agosto de 1960, na gestão do então Prefeito Antônio Xavier (in memoriam). Ele fica sobre uma base piramidal de 2,45 metros de altura.
O
busto homenageia o Bandeirante Domingos Fernandes Lana e a todos os desbravadores
e líderes que tiveram participação na formação do município e aos grandes
administradores de Manhuaçu.
Há relatos de que o busto tenha vindo da cidade do Rio de Janeiro.
Entre
1997 e 1998, o busto foi removido da praça e levado para o depósito da Prefeitura,
com danos no nariz e no braço.
Em
1999, a Prefeita em exercício Cici Magalhães, com o apoio do saudoso Vereador
Claúdio Lísias de Oliveira (Xerife), atendeu reivindicações da população e providenciou
seu retorno à praça, com a contratação de serviço de restauração da escultura,
executado pelo artista plástico João Rosendo.
A
reinauguração foi realizada em 20 de julho daquele ano.
Ex-prefeito Antônio Xavier |
O
busto foi tombado como Patrimônio Histórico do Município com o Decreto nº 1.128,
de 30 de novembro de 2016.
Em
sua placa, os dizeres: ‘Praça 5 de
Novembro, Município de Manhuaçu. Criado em 5 de novembro de 1887 Lei Provincial
no: 2.407. Homenagem de Gratidão do Povo do Município de Manhuaçu ao Espírito
Pioneiro dos seus desbravadores e aos líderes de uma emancipação. Construída na
administração do Prefeito Antônio Xavier, Manhuaçu 10 de agosto de 1960. Monumento
Histórico restaurado na administração 1999-2000. Cada um faz, todos ganham’.
O bandeirante
Natural
de Arapongas (na época, pertencente à Viçosa-MG), o bandeirante Domingos
Fernandes de Lana teria vindo de Raul Soares, em 1841, e, aqui se estabelecido
até 1847, motivado pela valorização financeira da planta conhecida como poaia (Cephaelis ipecacuanha).
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Em Araponga (MG), acesso ao Córrego dos Lana, terra natal do Bandeirante Domingos Fernandes de Lana, desbravador que se estabeleceu em Manhuaçu, em 1841 até 1847. (foto: Thomaz Júnior, 2021) |
‘O poaieiro, como era chamado Domingos Fernandes de Lana, fazia-se acompanhar de amigos, escravos, bem como de índios catequizados, e tinha como único objetivo em sua passagem por estas bandas a exploração de poaia, produto abundante na região e que, pela sua grande procura no mercado medicinal, constituía apreciável fonte de renda’.¹
Portador
de defeito físico, Domingos Fernandes de Lana, era casado com Dona Marianna
Carlotina da Rocha, e, em determinado momento, teria sido acusado por maus
tratos aos índios.
‘Pode ser que Domingos
Fernandes de Lana tenha deixado a região em razão da prisão que sofrera por
ordem de Guido Tomaz Marliere, encarregado da inspetoria das Regiões Militares
do Rio Doce, sendo Domingos Fernandes recrutado para prestar o serviço militar
e acusado de maltratar os índios da região. Entretanto, ele fora solto por ser
portador de defeito físico, incompatível com o serviço militar e pelo seu
prestígio, por ser filho do Capitão do Distrito de Descoberto, Casimiro de
Lana, e sobrinho do Comandante da 3ª Divisão e de outros dois comandantes da
mesma região’.²
Em
outro relato, Domingos Fernandes Lana teria tido conduta melhor com os índios.
‘Domingos Fernandes
Lana manteve relação amistosa com os índios puris (botocudos) que habitavam a
região e passou a explorar a floresta através do comércio de especiarias como a
ipecacuanha e madeiras de lei. Com a descoberta de ouro no leito do rio
Manhuaçu, na região atual de Santana, Fernandes Lana abandonou a atividade
extrativista e iniciou marcha descendo o rio, em busca do rico cascalho,
chegando até Aimorés, onde faleceu. Os índios puris que habitavam Manhuaçu, ao
lado da caça e da pesca, praticavam o cultivo rudimentar o solo, pois há muito
tempo haviam abandonado a vida nômade. A cultura básica era a mandioca. Também
se plantava milho sob o sistema de coivara, isto é, queima do mato para abrir
clareiras e o preparo do terreno para a semeadura. Foi a expedição do
bandeirante Fernandes Lana que trouxe pra a região a cultura da batata- doce,
que permitia ser comida como raiz cozida na brasa, dando menos trabalho no
preparo da alimentação dos silvícolas’.³
Conhecendo a poaia
Da
mesma família do café, a planta - também conhecida como ipeca- era extraída da
natureza pelos índios, sendo mercadoria muito disputada na época, por suas propriedades
medicinais como purgativo e antídoto para qualquer veneno. Além disto, seu
xarope era utilizado em tratamento médico como indutor do vômito, entre outros
usos.
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Poaia - foto: Deivid Fontes. |
‘Com o declínio do ouro, surgiram os poaieiros,
em busca de poaia ou ipecacuanha, raiz de muitas virtudes medicinais e que constituiu
nosso primeiro comércio. Muitas famílias chegaram antes da libertação dos
escravos, que vieram também, para fazer o árduo trabalho de desbravamento da
floresta virgem, onde formaram suas fazendas na zona rural. Outras famílias
chegaram depois da abolição, já no governo republicano, em 1889’.4
Conheça mais sobre a poaia nesta reportagem especial, acesse: https://globoplay.globo.com/v/2649352/
Conheça mais sobre a poaia nesta reportagem especial, acesse: https://globoplay.globo.com/v/2649352/
Abertura da primeira estrada
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Ilustração: Acervo do Patrimônio Histórico do Município |
Ainda
conforme os registros, em 1843, o Curador Nicácio Brum da Silveira fundou o
aldeamento em local conhecido mais tarde como ‘Ponte da Aldeia’.
Naquele
mesmo período, o Senhor Antônio Dutra de Carvalho estabeleceu a primeira
propriedade rural, com limites que se estendiam por três léguas de largura em
cada margem do Rio Manhuaçu e mais três léguas de fundo.
Antônio
Carvalho também teria ‘alugado índios junto à curadoria para abrir a primeira
estrada da região’, o que possibilitou a vinda de novas famílias que aqui se
estabeleceram e a ampliação do comércio local.
Datam
desta época, a vinda das primeiras famílias europeias e a diversificação da
produção agropecuária com o plantio do café e a criação de porcos.
Antes de Domingos Fernandes Lana
A
relação com os índios nem sempre foi amistosa. Pelo contrário, diversos
conflitos ocorreram.
A
saudosa escritora Adeuslyra Corsette relata que ‘depois da tentativa de Sebastião Fernandes Tourinho e de seu
companheiro Franciso Bruzza Espinosa, que não conseguiram chegar aqui,
impedidos pelos índios aimorés, no ano de 1676, chegou o sertanista Domingos
Fernandes de Lana, natural de Arapongas, quase duzentos anos depois de
Tourinho. Hábil para lidar com os silvícolas, ajudado por Nicácio Bruno da Silveira,
entrou em entendimento com os índios puris, que tinham suas malocas no lugar
onde hoje se ergue a ‘Matriz de São Lourenço’ e conseguiu leva-los para o lugar
denominado depois de ‘Ponte da Aldeia’. Uns índios retiraram-se para um lugar
conhecido como Coqueiro’.
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Ilustração: Acervo do Patrimônio Histórico do Município |
(Pesquisa e redação: Thomaz Júnior)
Com grande colaboração do Jornalista Sebastião Fernandes.
Saiba mais sobre a História de Manhuaçu em www.cidadesdocafe.com
Fontes bibliográficas:
1 - (SAYGLI, Monir Ali.
História de Caratinga. Caratinga: Ana Montes, 1997, p. 17-18 apud SANTOS,
Flávio Mateus dos. A República do Silêncio, 2009, p. 116);
2 - (SAYGLI, apud SANTOS, 2009);
3 - (RODRIGUES, José
Fernandes. Manhuaçu: fatos e notas de seus primórdios);
4 - (CORSETTE, Adeuslyra.
Nossa Terra, Nossa Gente. 1998. 1ª ed., p.11);
5- (CORSETTE, 1998);
6- (SANTOS, 2009 apud Dossiê de Tombamento do Busto do Bandeirante, 2016);
(SANTOS, Flávio Mateus
dos. A República do Silêncio, 2009, 1ª ed.);
(BATISTA, Núbio Argentino.
Coisas do Rio Grande. 2012);
Dossiê de Tombamento do Busto do Bandeirante
(http://www.manhuacu.mg.gov.br/abrir_arquivo.aspx/Dossie_de_Tombamento_Busto_do_Bandeirante_?cdLocal=2&arquivo=%7B2B04CA5A-0AD4-1AC1-DBEB-EAE15A2BDD6A%7D.pdf);
Blog Região de Manhuaçu (http://regiaodemanhuacu.blogspot.com/p/domingos-fernandes.html);
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Charge publicada em jornal de Manhuaçu, em 1998. |
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Igreja Matriz São Miguel Arcanjo, Araponga, 2021 (foto: Thomaz Júnior) |
Fotos do centro de Araponga e da Prefeitura, em 2021:
Lembrança de Araponga (MG), terra natal do Bandeirante Domingos Fernandes de Lana, um dos pioneiros, após os indios, para a formação do município de Manhuaçu. Apelidado de poaieiro, por sua atuação no cultivo e comércio de poaia (planta prima do café, amplamente utilizada por nossos índios ancestrais), Domingos de Lana teria chegado em Manhuaçu em 1841 e permanecido até 1847, quando seguiu o leito do Rio Manhuaçu, até Aimorés, onde entende-se que faleceu. Entre estas fotos que fiz, o registro do acesso ao Córrego dos Lana, em Araponga, comunidade rural que leva o sobrenome do nosso mais conhecido bandeirante. #tbt #2021 #historiademanhuaçu
Lembrança de Araponga (MG), terra natal do Bandeirante Domingos Fernandes de Lana, um dos pioneiros, após os indios, para a formação do município de Manhuaçu. Apelidado de poaieiro, por sua atuação no cultivo e comércio de poaia (planta prima do café, amplamente utilizada por nossos índios ancestrais), Domingos de Lana teria chegado em Manhuaçu em 1841 e permanecido até 1847, quando seguiu o leito do Rio Manhuaçu, até Aimorés, onde entende-se que faleceu. Entre estas fotos que fiz, o registro do acesso ao Córrego dos Lana, em Araponga, comunidade rural que leva o sobrenome do nosso mais conhecido bandeirante. #tbt #2021 #historiademanhuaçu
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