Cultura: a arte de Samuel Brandão


Exemplo para novos talentos que despontam nas artes plásticas na região, o manhuaçuense Samuel Campos Brandão teve trajetória de vida fascinante, envolvendo a pintura e profunda paixão pelo Impressionismo. Com participações em diversas exposições e salões de arte, dentro e fora do país, seus quadros tornaram-se conhecidos e admirados pelo público. Em entrevista especial, o artista relatou também a convivência com outros grandes nomes das artes plásticas como Ivan Serpa, Alberto da Veiga Guignard e Eugênio Sigaud.
Patrono da ACLA-MG (Academia de Ciências, Letras e Artes de Minas Gerais), Samuel Brandão faleceu no final de 2008, alguns meses depois da gravação desta entrevista.
Em 2012, o município homenageou o saudoso artista plástico e músico com o Auditório Samuel Campos Brandão, na Secretaria de Cultura, junto à Biblioteca Municipal no centro da cidade.
Making off da entrevista de vídeo, gravada em na residência do artista em 2008.
Habilidoso nos negócios relacionados à Engenharia, Samuel também decidiu trilhar o caminho das artes na juventude. ‘Em 1965, eu tinha uma firma de engenharia que construía estradas. Mexia com artes plásticas nos períodos em que ficava de folga. Fora disso, continuei com a engenharia até liquidar a firma. Apesar de vender bastante meus trabalhos, nunca tive a arte como suporte econômico. […] Eu já tinha tendência a gostar das artes plásticas. Comecei a gostar mesmo com o Pintor Nilo Previdi que me orientou, na época de 1965 a 1970, quando eu morava em Curitiba. O Nilo me entusiasmou demais, me dava muito apoio. Fui então chamado para fazer exposição e participar de salões oficiais e estaduais’, destacou.
Fazendo arte no Paraná

Além da participação em diversas exposições e salões de arte no Paraná, Samuel Brandão desenvolveu um trabalho inovador em um sanatório de Londrina. ‘Uns dois ou três anos depois que comecei a pintar, um saudoso amigo manhuaçuense, Dr. Éber Vargas, grande psiquiatra, infelizmente já falecido, me convidou para ir a Londrina. Em contato com as pessoas que sofriam de doenças mentais, o Éber me pediu que fizesse experiências em artes plásticas com estes pacientes. Então, montei dentro do sanatório um ateliê em que os pacientes podiam pintar. Percebemos que alguns apresentavam talento. Foi uma boa experiência’, relatou.
Com o médico e acadêmico da AML (Academia Manhuaçuense de Letras),
Dr. Fábio Araújo de Sá.
Ainda no Paraná, em 1966, Samuel recebeu Diploma de Honra ao Mérito pela contribuição artística ao Centro de Gravura, e, nos dois anos seguintes, ensinou xilogravura aos alunos da referida instituição.
No Rio de Janeiro e na Europa

No Rio de Janeiro, Samuel Brandão frequentou o ateliê do escultor e artista Edgar Duvivier, professor da Escola de Desenho Industrial da Guanabara. Lá, participou da construção da primeira casa de ‘fiberglass’, em Sumaré-Guanabara. ‘No Rio de Janeiro, coloquei em prática tudo o que havia aprendido e entrei no mercado com vendas, participação em leilões e exposições. Me entrosei com pintores e galerias, no Palácio dos Leilões, Galeria Irlandine e várias outras, também de renome. Tive muito apoio do Ernani – que era um leiloeiro que tinha uma casa de leilões. Fui, por ele, muitas vezes solicitado para expor. Inclusive ele tinha uma galeria na Rua São Clemente e, em seguida, mudou-se para Ipanema (RJ), onde também expus os meus quadros. Entre os pintores que eram mais chegados a mim naquela época havia o Holmes Neves, Roberto de Souza entre outros’, comentou.
Em 1974, Samuel foi eleito Vice-presidente da Associação dos Artistas Plásticos da Guanabara (Museu de Arte Moderna – RJ). Nesta época, o artista pintou parte da ‘Via Sacra’, da Igreja de Santo Antônio, em Manhuaçu, sendo citado pelo Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, de Carlos Cavalcanti, editado pelo MEC (Ministério de Educação e Cultura).
Em 1979, viajou para Londres, onde estudou o mercado de tapetes orientais e, depois de visitar Holanda e Bélgica, vai para Roma, e, daí, Florença e Nápoles – onde pinta dois painéis para o colecionador N. Narbone, em Agropoli. ‘Tive uma vida mais ligada às artes plásticas no Rio de Janeiro. Em relação à Europa, expus coletivamente e individualmente. Primeiro, foi na Holanda. Depois foi em Londres, Paris e em Hamburgo, na Alemanha. Nesta época, a Arte Brasileira era completamente ignorada. Ninguém conhecia pintor algum. Pra você ter uma idéia, nem um pintor famoso como o Guignard era conhecido. Até Portinari era raramente mencionado’, acrescenta Samuel.
Em Manhuaçu

‘Fui colega do ex-prefeito Dr. Mário Assad no tempo de ginásio e ele pediu que fizesse exposição na Prefeitura. Reuni algumas obras e fiz uma exposição lá. Depois doei uma parte destes quadros ao Fórum Desembargador Alonso Starling’, salientou.
O impressionismo

Durante entrevista, Samuel explicou sua predileção pelo impressionismo. “Eu peguei a época do Impressionismo. E o que falava mais dentro de mim eram os quadros impressionistas porque o figurativo eu acho muito monótono. Você olha e cansa de olhar. Já o impressionismo não. Ele tem muitas cores, não tem nada definido, você olha e, na sua mente, você completa o que o artista quis transmitir na obra. Temos os exemplos de Van Gogh, Cézanne, todos estes pintores franceses que eram realmente muito bons e me deram muita base para desenvolver minha pintura”, pontuou.
Sobre o convívio com outros renomados artistas que influenciaram seu trabalho, Samuel citou os nomes de João de Oliveira, Guignard e Sigaud. ‘O Guignard eu conheci quando morei em Belo Horizonte. Ele tinha uma escola no Parque Municipal, mas não cheguei a ser aluno dele. Eu o admirava demais. Ele era extraordinário, um dos maiores que eu conheci’, revelou.
Novos talentos

Solicitado a dar um conselho para os jovens que agora ingressam nas artes plásticas, Samuel Brandão destacou a importância da persistência e o contato com os grandes centros urbanos para a comercialização das obras. “A pessoa tem que ter talento. O resto é trabalho, trabalho e trabalho. Não pode parar não! Tem que trabalhar todo o dia. Levanta e vai pintar até tarde da noite. Tem que ser assim até chegar num ponto em que ele o artista domina, entre aspas, os pincéis para fazer a obra e projetar sua personalidade. A venda é muito importante para o artista. Ele precisa vender. Nas grandes cidades, pelo menos tem mercado. Onde tem mercado o pintor pode prosperar. Agora, onde não tem mercado é muito difícil. A própria pessoa desanima de pintar, o artista vai acumulando quadros, por não vendê-los”, relata.
Na mídia

O artista manhuaçuense concedeu diversas entrevistas a emissoras de TVs e jornais do Brasil e do exterior. Certa vez, foi entrevistado pela colunista Hildegard Angel, juntamente com o Dr. Ivo Pitangui e D. Mindinha Villas Lobo. O Jornal do Comércio e a Revista Boletim Cambial (Rio/ SP) publicaram toda a sua obra. Samuel foi entrevistado pela Jornalista Isabela Scalabrini (TV Globo) e, em 2004, teve publicado no Jornal O Globo seu projeto para evitar pichações nos muros e prédios. A Revista inglesa The Wilson Quartely também publicou seu trabalho ‘Futebol na Favela’.
Ainda em 2004, Samuel Campos Brandão foi homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, sendo condecorado com a Medalha Tiradentes.
O Deputado Armando José, autor do Projeto, justificou que o artista ‘é dono de uma biografia inquieta, uma vida de múltiplas atividades em que a arte é a mais constante. Suas pinturas, com tonalidades fortes, o tornaram um dos mais interessantes pintores de nosso País’.
Em sintonia com a música

Além das aptidões com a pintura, Samuel demonstrava habilidades com instrumentos musicais como o piano e o saxofone. ‘Quando era mais novo tocava saxofone. Aliás, tocava até relativamente bem. Dava muita canja lá no Rio, nas orquestras, naqueles ‘dancing’. Os músicos me convidavam e eu ia. Foi mais uma aventura mesmo. Nunca levei a sério a ideia de ser profissional da música. Às vezes, em casa, toco piano para quebrar a monotonia. Gosto muito de música americana, de jazz. Fico tirando acordes, mas é mais por diversão mesmo, só pra mim’, destaca.
Samuel voltou a morar em sua cidade natal em Manhuaçu, após ser vítima de um assalto em seu apartamento no Rio de Janeiro.
(Thomaz Júnior)
















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