segunda-feira, 30 de maio de 2011

Meeiros de Café: a busca das Minas (III)

Eng Agr Ruy Gripp


Continuando com “Meeiros de Café", de Vivaldo Barbosa obra que retrata a história da colonização desta parte do Brasil entre MG/ ES, que engrandece o autor e nossa região cafeeira do entorno da Serra do Caparaó", temos do Capítulo UM: 

"Serra do Caparaó, Zona Proibida. Os primeiros olhos do homem branco europeu a contemplarem esse deslumbrante panorama, essa imensa riqueza da natureza, numa multiplicidade de vegetação nunca vista na Europa foram do português Sebastião Fernandes Tourinho lá pelos idos de 1570.

A partir de 1554, estimuladas e apoiadas pelo Governo Geral recém-instalado na Bahia, expedições já haviam tocado nascentes do no São Francisco e do rio Doce, à procura de ouro e prata. Pois esse Sebastião Fernandes Tourinho saiu de Porto Seguro, embrenhou-se no sertão, perambulou por léguas e léguas, navegou rios, entrou pelo rio Guandu, pelo São Mateus, pelo Rio Doce, andou tanto e por tantos dias que acreditou estar chegando perto do Rio de Janeiro. Teria entrado pelo Rio Manhuaçu, a partir do Rio Doce. De uma elevação, contemplou a Serra do Caparaó, pensando tratar se da Serra dos Órgãos, que já conhecia, pois estivera antes na baía de Guanabara, e a contemplara do outro lado, a partir do fundo da baía.

Num aspecto, Tourinho tinha razão. Divisadas de longe, as duas serras possuem píncaros pontiagudos, montanhas elevadas, as duas cordilheiras bem semelhantes. E igualmente belas e deslumbrantes.

Só mais de cem anos depois, no fim dos anos Seiscentos, outras expedições vieram de São Paulo, a partir de Taubaté, à busca de ouro e de índios. Tocaram o rio Casca e outros afluentes do Rio Doce. Foi o mais perto que se chegou do Caparaó.

Estas expedições nada deixaram, nada plantaram, nada edificaram. Somente após as Entradas e Bandeiras, organizadas a partir de Fernão Dias Paes, é que em seus caminhos se fundaram povoados, plantou-se, roças foram formadas, algo de duradouro se estabeleceu. Taunay já observou que as Entradas e Bandeiras desempenharam papel de empresa permanente. 

Na região mais próxima da costa brasileira, esta longa costa de mais de nove mil quilómetros, a Serra do Caparaó foi das últimas a ser povoada. Era o centro da Zona da Mala, com a densa vegetação que lhe deu o nome, a distingui-la das áreas de mineração e do cerrado. "Formava um todo contínuo com floresta do médio Paraíba, ao sul, e a do vale do rio Doce, ao norte. A oeste, limitavam-na os campos naturais do centro e do sul de Minas.” 

Por Alvará de 1733, fica proibido abrir picadas ou caminhos na capitania Minas Gerais, e, em consequência, a abertura de qualquer área na mata, o estabelecimento de qualquer fazenda, a construção de qualquer casa em toda a região que fica entre as minas em torno de Vila Rica e a costa do Brasil, envolvendo toda a região em redor da Serra do Caparaó e do Vale do Rio Doce, quer do lado de Minas, quer do lado do Espírito Santo.

Nem por ali podia se passar. Era a Zona Restrita, a Zona Proibida. Abrangia praticamente toda a Zona da Mata, assim denominada por sua densa vegetação florestal, em contraste com a rala vegetação das zonas de mineração. 

Um caminho direto entre Vila Rica e o Porto de Vitória passaria em plena Serra do Caparaó, o traçado hoje correspondente à BR-262, que liga Belo Horizonte à Vitória, equivalente à distância direta entre Vila Rica e o Rio de Janeiro. O governo português temia que esse caminho pudesse ser aberto, e por ele se fizesse o contrabando de ouro, deixando o erário português a ver navios. Portugal receava igualmente que franceses ou holandeses pudessem utilizá-lo para chegar à região das minas, como já referido.

Em busca de Minas: Já prestes a se completarem duzentos anos desde que Cabral aqui chegara, o Brasil era apenas a sua costa. Não havia incursões Brasil adentro, nem povoamento se fizera pouco além da costa. 

As Bandeiras e Entradas iam e vinham, traziam índios para o trabalho escravo, além de muitas frustrações por não terem ainda achado ouro ou prata. 

Piratininga continuava o ponto ocupado mais ao interior. Somente já no extremo sul, os paulistas, a partir de Piracicaba, e, em seguida, os açorianos, estes especialmente enviados pelo governo português, haviam avançado até os pampas, onde eram criados, de maneira selvagem, gado, cavalos e burros. 

Ao que se conhecesse, tratava-se de uma das áreas da terra mais apropriadas para tal criação, superior às estepes russas e à Ásia Central. 

Pelo São Francisco, verificou-se alguma penetração e se estabeleceram algumas povoações para criação de gado. No Nordeste, não era necessário ir muito além sertão adentro, para cultivar a cana-de-açúcar e construir os engenhos. Na verdade. Portugal era pequeno, de pequena população para um Brasil tão grande. P.17.

Pior do que a ausência de população significativa, foi a mediocridade das elites portuguesas neste período. Durante os anos Seiscentos, Portugal celebrou diversos acordos comerciais com a Inglaterra (1.642, 1654 e 1661), altamente favoráveis a esta última, abrindo o mercado português às manufaturas inglesas, assegurando tão somente mercado para os vinhos portugueses. Mais tarde, já no início do século XIX, o grande economista inglês, David Ricardo, o maior em seguida a Adam Smith, afirmava tese central do liberalismo à inglesa: na divisão da economia europeia, o trigo deveria ser fornecido pela Polônia, os vinhos, pela França e por Portugal, e as manufaturas pela Inglaterra. 

A mesma tese imposta ao mundo nos tempos recentes da chamada globalização, que gerou esta imensa crise que o mundo hoje sofre.

Em 1703, o Tratado de Methuen consolidou esses acordos, fechando as possibilidades de se criarem indústrias em Portugal para competir com produtos ingleses. 

Exatamente no momento em que se revelavam aqui as minas que propiciariam os capitais necessários à implantação de indústrias no Brasil e em Portugal. 

Ao longo de todo o século XVIII, o ouro aqui produzido poderia ter sido a base de capital de inúmeras indústrias, especialmente as de tecidos. Não o foi. Escoou para a Inglaterra, a fim de sustentar as indústrias inglesas. 

O Tratado de Methuen representou para Portugal o mesmo que o FMI para os países do Terceiro Mundo, nos últimos tempos”.


Veja também: https://blogdothomazjr.blogspot.com/2010/06/autor-de-manhumirim-lanca-livro-meeiros.html


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