sábado, 27 de janeiro de 2024

História do Brasil: A mineração e a ocupação do Centro-Sul

A mineração teve na vida da colônia um grande papel. Durante três quartos de século ocupou a maior parte das atenções do país, e desenvolveu-se à custa da decadência das demais atividades. 

O afluxo de população para as minas é, desde o início do século XVIII, considerável: um rush de proporções gigantescas, que relativamente às condições da colônia é ainda mais acentuado e violento que o famoso rush californiano do século XIX. Isto já seria suficiente para desequilibrar a vida do país e lhe transformar completamente o aspecto. 

Em alguns decênios povoa-se um território imenso até então desabitado, e cuja área global não é inferior a dois milhões de km² Povoamento esparso, bem entendido (em princípios do século XIX não será superior a 600.000 habitantes, ou seja, um quinto da população total do Brasil de então), e distribuído em pequenos núcleos separados entre si por áreas desertas imensas. Esta será a forma característica do povoamento do Brasil centro-sul que se perpetuará até nossos dias. 

A sua significação econômica pode ser avaliada pela dificuldade que representa estabelecer-se um sistema de transportes eficiente e econômico em região tão irregularmente ocupada. Será este o maior ônus legado pela mineração do século XVIII.

Mas de outro lado, o impulso desencadeado pela descoberta das minas permitiu à colonização portuguesa ocupar todo o centro do continente sul-americano. É este mais um fato que precisa ser contado na explicação da atual área imensa do Brasil.

As transformações provocadas pela mineração deram como resultado final o deslocamento do eixo econômico da colônia, antes localizado nos grandes centros açucareiros do Nordeste (Pernambuco e Bahia). A própria capital da colônia (capital mais de nome, pois as diferentes capitanias, que são hoje os Estados, sempre foram mais ou menos independentes entre si, subordinando-se cada qual diretamente a Lisboa) transfere-se em 1763 da Bahia para o Rio de Janeiro. 

As comunicações mais fáceis das minas para o exterior fazem por este porto, que se tornará assim o principal centro urbano da colônia.

De um modo geral, é todo este setor centro-sul que, graças em grande parte à mineração, toma em primeiro lugar entre as diferentes regiões do país, para conservá-lo até hoje. 

A necessidade de abastecer a população, concentrada nas minas e na nova capital, estimulará as atividades econômicas num largo raio geográfico que atingirá não somente as capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro propriamente, mas também São Paulo. 

A agricultura e mais em particular a pecuária desenvolver-se-ão grandemente nestas regiões. É de notar que o território das minas propriamente (sobretudo das mais importantes localizadas no centro de Minas Gerais) é impróprio para as atividades rurais. O solo é pobre e o relevo excessivamente acidentado. Nestas condições, os mineradores terão de se abastecer de gêneros de consumo vindos de fora. Servir-lhes-á sobretudo o sul de Minas Gerais, onde se desenvolve uma economia agrária que embora não contando com gêneros exportáveis de alto valor comercial - como se dera com as regiões açucareiras do litoral-, alcançará um nível de relativa prosperidade.


Fonte: PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 12ª ed. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1970, p. 64-5.


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