Mais informação não significa melhor informação
Por Murillo de Aragão, Jornal O TEMPO
Gosto do tema “mondo cane” na internet e, certa vez, escrevi um texto que começava assim: “Destruído pela BBC, destruído pela MTV. Eu odeio morder a mão de quem me alimenta de informação”. Trata-se da tradução livre do refrão de uma música do Duran Duran, dos anos 1990, cujo título é emblemático: “Too Much Information”.
De lá para cá, a questão só se agravou. O volume de informação produzida aumentou imensamente. Mais de 1 milhão de títulos de livros são publicados por ano. Fora algumas centenas de milhões de páginas de revistas e jornais. Sem falar na internet, que possui bilhões de páginas armazenadas.
Mais informação não significa melhor informação. Hoje temos muito mais conhecimento acumulado. Nosso interesse, no entanto, caminha em direções pouco relevantes. Uma simples olhada no site G1 revela do que “o povo gosta” na internet, como diria o falecido Edson Bolinha Cury na TV Bandeirantes. As reportagens mais lidas no maior site de notícias do Brasil estão localizadas no reino do mundo cão, que inclui sexo, desvios de conduta, perigo, entre outros ingredientes de fácil sensibilização dos sentidos. A sequência só foi quebrada pela súbita morte do glorioso José Wilker.
Vamos lá. A matéria número 1 no sábado, 4 de abril, era “Conheça a vida de uma prostituta hermafrodita e pai de três filhos”. Algo entre patético e extravagante que fiz questão de não ler. A segunda mais lida era, nada mais, nada menos, do que “Sapos copulam e ignoram perigo de crocodilo à espreita”. Tema que, como o primeiro, inclui sexo e agrega o perigo do ataque – que não aconteceu – do crocodilo (apenas um voyeur do mundo animal).
A terceira notícia mais lida misturava beleza e recomeço e trazia um sério apelo aos sentimentos das pessoas: “Mendigo gato comemora gravidez de surpresa da namorada”. O mendigo gato é um antigo frequentador da lista das mais lidas, desde que foi descoberto entre mendigos e, depois, quando fez alguns ensaios fotográficos como modelo. Pelo menos, é uma história edificante de superação. Mas recheada de drama, como o povo gosta.
A quarta mais lida era outra notícia bombástica que misturava indignação e exagero: “Equipe de navio vivia em quase escravidão na Bahia”. O tema da escravidão tem um apelo fatal na busca pela audiência. A quinta era uma nota sobre uma jovem que negava ter sofrido um estupro coletivo divulgado pela internet.
Vivemos tempos de excesso de informação que causa, no mínimo, dois efeitos colaterais. A banalização do noticiário, a partir da preferência escancarada do leitor, e o apelo ao império dos sentidos na busca pela audiência fácil. Quanto mais escandalosa a notícia, melhor. A banalização faz com que qualquer tema possa ser “notícia”. Até mesmo um crocodilo voyeur.
Assim, o maior volume de informação, pelo menos num primeiro momento, terminará aumentando o fosso entre os que sabem mais e melhor e os que apenas surfam entre uma desgraça e um drama. É a tendência.
O que faz com que sites menos badalados e com mais conteúdo terminem sendo um oásis de informações relevantes e influentes. E, ainda, com que o “data mining” para separar o joio do trigo esteja explodindo como ferramenta essencial. Amanhã isso será algo trivial em qualquer computador ou smartphone. Até mesmo para nos livrar daqueles que fazem comentários cretinos nos blogs.
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