quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Livro Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco

    Exemplo da língua literária de sua época e marco do ultrarromantismo português - corrente literária da segunda metade do século XIX que leva ao extremo os ideais românticos -, Amor de Perdição foi muito bem-recebido pelo público. Considerada uma espécie de Romeu e Julieta português, nessa novela passional, Camilo Castelo Branco levou às últimas consequências a ideias de que o amor deve sobrepor-se à razão e até mesmo à vida.


Esta obra trata do amor impossível e debate a oposição entre a emoção e os limites que a sociedade impõe para a sua realização. Sem alcançar a consumação da paixão, o herói romântico só pode ter um destino trágico. Assim como o mesmo amor que redime, mata, o narrador-autor já antecipa na introdução do livro a vida de seu herói romântico: "Amou, perdeu-se e morreu amando".

Os personagens do Romantismo vivem em conflito com a sociedade, que impõe limites à realização de seus desejos.

No caso de Amor de Perdição, o obstáculo a ser superado é a família. Assim como Romeu e Julieta, a obra retrata dois apaixona- dos que têm como empecilho para a realização amorosa a rivalidade que há entre seus pais. E essa não é a única semelhança com o romance de Shakespeare: o final trágico, presente nas duas obras, é o ponto alto dessa novela que reflete o amor típico da escola literária a qual representa.



Biografia:

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa em 16 de março de 1825. Perdeu seus pais muito cedo (a mãe, com 1 ano e o pai, aos 10), e teve muitas dificuldades na infância e adolescência. Órfão, foi viver primeiro com uma tia e, depois, com uma irmã.

As muitas mudanças lhe conferiram uma educação desregrada. Casou-se aos 16 anos, união fruto de uma paixão de adolescente, que durou apenas um ano. Após deixar sua esposa, tentou fazer Medicina em Porto (1844) e Direito em Coimbra (1845), e se relacionou com muitas mulheres.

Para se sustentar, cursou Jornalismo em Porto. Durante alguns meses tornou-se religioso fervoroso, o que lhe fez entrar para um seminário, abandonado logo depois pela boêmia e pela leitura de escritores franceses.

A paixão alucinada que tinha por Ana Plácido, que era casada com um comerciante, levou os dois à prisão por adultério, em1861. No entanto, essa relação se consolidou. O casal nunca se separou, apesar de todos os problemas financeiros.

Castelo Branco fez de tudo para viver da literatura. Mesmo depois de ter recebido, em 1885, o título de visconde de Correia Botelho, sua vida econômica não melhorou. Além disso, a constante ameaça da cegueira causada pela sífilis lhe conferia uma depressão crescente e autodestrutiva.


O autor representou em Portugal diversas tendências da literatura europeia do século XIX, mas foi principalmente um autor romântico. Reconstituiu em suas obras o cenário dos costumes e das características portuguesas de seu tempo, quase sempre com uma intensa consonância com os modos como o seu povo vivia e sentia.


Em 1º de junho de 1890, depois de saber que ficaria definitivamente cego, Camilo Castelo Branco cometeu suicídio em São Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, aos 65 anos.


Suas obras podem ser agrupadas em duas fases: na primeira, Camilo Castelo Branco escreveu novelas de caráter folhetinesco. Entre elas estão: Anátema (1851), Mistérios de Lisboa (1854), Duas épocas na vida (1854) e O livro negro do padre Dinis (1855).


Na segunda fase predomina a influência balzaquiana, no qual se valoriza a realidade social. Algumas dessas obras são: Vingança (1858), Carlota Ângela (1858) e A morta (1860). Seus livros mais conhecidos refletem a experiência na prisão, tratando em estilo conciso, mas intenso, do amor exasperado e reprimido: O romance de um homem rico (1861), o famoso Amor de perdição (1862), o Amor de salvação (1864), O olho de vidro (1866), A doida do Candal (1867), O retrato de Ricardina (1868), A muIber fatal (1870). Em Doze casamentos felizes (1861), Estrelas funestas (1861) e Estrelas propícias (1863) há um tom moralizador. Já em Coração, cabeça e estômago (1862), A queda dum anjo, entre outros, há um discreto toque de humor.

    Castelo Branco também escreveu romances históricos, como O judeu (1866), e zombou do Realismo com Eusébio Macário (1879) e A corja (1880). No entanto, ele mesmo acabou escrevendo romances realistas, como Novelas do Minho (1875- 1877) e A brasileira de Prazins. (1882).


Castelo Branco, Camilo, 1825-1890. Amor de Perdição, 2ª ed. rev., São Paulo, Ciranda Cultural, 2008, Clássicos da Literatura).




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