A História de Manhuaçu, nos primeiros anos de
sua emancipação, é marcada por ações violentas envolvendo disputas políticas
que, por vezes, tinham como desfecho tiroteios, assassinatos e outras ocorrências
ocasionadas pelo coronelismo.
A partir de pesquisas sobre este movimentado
passado, no contexto político, o Repórter Investigativo Sebastião Fernandes, da
Academia Manhuaçuense de Letras, disponibilizou ao Diário de Manhuaçu precioso
registro histórico extraído do livro Polícia de Segurança Pública/MG, Construção
do Período Republicano (1890/1970), de Cel. Klinger Sobreira de Almeida (2021).
A Rebelião
Conforme publicado no Diário Oficial MG, edição
de 16 de setembro de 1908, o registro de uma nova tentativa de toma de poder em
Manhuaçu, doze anos após o episódio envolvendo o Coronel Serafim Tibúrcio.
Segue transcrição:
‘Em 20 de agosto último, o Sr. Chefe de Polícia
recebera do Sr. Juiz de Direito da Comarca de Manhuaçu, um telegrama em que ele
comunicava que, ameaçado por capangas do Dr. Fausto Maldonado, teve de
retirar-se da cidade, e que o coletor das rendas federais havia sido vítima de
tentativa de assassinato por parte dos mesmos capangas.
O Sr. Chefe de Polícia, no intuito de assegurar
a manutenção da ordem pública e de se informar de todos os pormenores da
ocorrência, despachou para ali, como delegado especial, o Capitão João Soares
de Lima, que lá chegou a 27 do corrente. Em 1º de setembro, segundo telegrama
do Sr. Juiz de Direito, comunicava que, estando ele na fazenda do Vice-presidente
da Câmara Municipal, fora ela cercada por grupos de capangas, por ordem do Dr.
Maldonado, os quais exigiram a sua retirada imediata, sob pena de morte, e que,
na impossibilidade de reagir, teve de ceder às circunstâncias, seguindo
escoltado para Carangola.
Ao mesmo tempo, chegava à Chefia de Polícia o
seguinte boletim impresso e distribuído em Manhuaçu: “O povo da Comarca de
Manhuaçu, reunido em praça pública, resolve depor a atual Câmara Municipal e
proclamar seu Presidente e Agente Executivo o Sr. Tenente-coronel José Bento
Barbosa, garantindo pelas armas sua posse e exercício até ulterior resolução. O
mesmo faz em relação ao juiz de direito, que fica para sempre deposto. O comitê
reacionário: José Guilherme Hott, Francisco de Paula Coelho, João Pedro de Faria,
Álvaro Dutra de Carvalho, Henrique Camillo Pinel, Vicente Sedaro, Joviano
Gualberto de Medeiros, Benjamin Badaró.”
À vista de tão graves notícias, impunha-se a
necessidade de providências prontas e eficazes para restabelecimento da ordem e
manutenção do princípio de autoridade, tanto mais quanto, em 2 deste mês,
tivera a Chefia de Polícia confirmação da gravidade das ocorrências por um
telegrama do Delegado Especial, Capitão Lima, que reclamava auxílio de um forte
contingente de praças para poder dominar a situação. Diversas providências
tomadas pelo então Chefe de Polícia, dentre as quais a de recomendar ao
delegado especial de Carangola que empregasse todos os esforços para conservar
desimpedidas as comunicações de Manhuaçu com esta Capital; de tomar as
precauções necessárias para que não fossem transmitidos, aos amotinados, avisos
da aproximação e da quantidade de força que daqui partiria no dia seguinte.
Efetivamente, a 3, pelo trem da manhã, foi despachado um contingente de 50
praças do esquadrão de cavalaria, bem armadas e municiadas, sob o Comando do Alferes
Mello Franco. Essa força partiu de Carangola, no dia 4, às 7 horas da manhã, levando
o juiz de direito e o presidente da Câmara, Coronel Frederico Dolabella, e
entrou em Manhuaçu no dia 6, ao meio-dia, sem outro incidente, a não ser a
morte do conhecido desordeiro Vicente Sedaro, um dos signatários do boletim
acima transcrito, o qual, num impulso de ousadia, antepôs-se à força em atitude
agressiva, contra ela disparando tiros. Teve então a força de reagir, fazendo
fogo contra o agitador, que veio a falecer em consequência dos ferimentos
recebidos. Nesse mesmo dia, foram recolhidos à prisão o Dr. Fausto Maldonado, o
coronel José Bento Barbosa, pronunciados por crime de homicídio, e todos os
signatários do boletim, menos dois, que se evadiram. As últimas notícias dão
como restabelecida a ordem e recolocados em seus cargos as autoridades e funcionários
que haviam sido violentamente depostos (...). Sobre todas as ocorrências está o
delegado especial procedendo a inquérito, segundo instruções recebidas da
Chefia de Polícia”.
A transcrição acima, quase na íntegra, é um
retrato POLÍCIA SEGURANÇA PÚBLICA. Localizado do interior mineiro àquela época,
quando as armas de fogo abundavam (carabinas, garruchas, revólveres...), e os
problemas, normalmente, resolvidos à bala.
Manhuaçu fora o clímax, quando o Dr. Fausto
Maldonado, já processado por outros homicídios, pretendera proclamar a
“independência do município” pela lei das armas.
(Pesquisa: Sebastião
Fernandes, Extraído do livro Polícia de Segurança Pública/MG, Construção do
Período Republicano (1890/1970), de Cel. Klinger Sobreira de Almeida – 1ª Ed.
Belo Horizonte, 2021/ foto: Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais/
SIAPM)
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1908: Senador João Luiz Alves e Comitiva, em trecho da Estrada de Ferro Vitória-Diamantina, sobre ponte metálica em Manhuaçu (MG), em 31/07/1908 (Arquivo SIAAPM). |
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