segunda-feira, 28 de março de 2022

História da Cidade: rebelião de 1908 tentou nova tomada forçada do poder em Manhuaçu

 A História de Manhuaçu, nos primeiros anos de sua emancipação, é marcada por ações violentas envolvendo disputas políticas que, por vezes, tinham como desfecho tiroteios, assassinatos e outras ocorrências ocasionadas pelo coronelismo.

A partir de pesquisas sobre este movimentado passado, no contexto político, o Repórter Investigativo Sebastião Fernandes, da Academia Manhuaçuense de Letras, disponibilizou ao Diário de Manhuaçu precioso registro histórico extraído do livro Polícia de Segurança Pública/MG, Construção do Período Republicano (1890/1970), de Cel. Klinger Sobreira de Almeida (2021).

 

A Rebelião

 

Conforme publicado no Diário Oficial MG, edição de 16 de setembro de 1908, o registro de uma nova tentativa de toma de poder em Manhuaçu, doze anos após o episódio envolvendo o Coronel Serafim Tibúrcio. Segue transcrição:

‘Em 20 de agosto último, o Sr. Chefe de Polícia recebera do Sr. Juiz de Direito da Comarca de Manhuaçu, um telegrama em que ele comunicava que, ameaçado por capangas do Dr. Fausto Maldonado, teve de retirar-se da cidade, e que o coletor das rendas federais havia sido vítima de tentativa de assassinato por parte dos mesmos capangas.

O Sr. Chefe de Polícia, no intuito de assegurar a manutenção da ordem pública e de se informar de todos os pormenores da ocorrência, despachou para ali, como delegado especial, o Capitão João Soares de Lima, que lá chegou a 27 do corrente. Em 1º de setembro, segundo telegrama do Sr. Juiz de Direito, comunicava que, estando ele na fazenda do Vice-presidente da Câmara Municipal, fora ela cercada por grupos de capangas, por ordem do Dr. Maldonado, os quais exigiram a sua retirada imediata, sob pena de morte, e que, na impossibilidade de reagir, teve de ceder às circunstâncias, seguindo escoltado para Carangola.

Ao mesmo tempo, chegava à Chefia de Polícia o seguinte boletim impresso e distribuído em Manhuaçu: “O povo da Comarca de Manhuaçu, reunido em praça pública, resolve depor a atual Câmara Municipal e proclamar seu Presidente e Agente Executivo o Sr. Tenente-coronel José Bento Barbosa, garantindo pelas armas sua posse e exercício até ulterior resolução. O mesmo faz em relação ao juiz de direito, que fica para sempre deposto. O comitê reacionário: José Guilherme Hott, Francisco de Paula Coelho, João Pedro de Faria, Álvaro Dutra de Carvalho, Henrique Camillo Pinel, Vicente Sedaro, Joviano Gualberto de Medeiros, Benjamin Badaró.”

À vista de tão graves notícias, impunha-se a necessidade de providências prontas e eficazes para restabelecimento da ordem e manutenção do princípio de autoridade, tanto mais quanto, em 2 deste mês, tivera a Chefia de Polícia confirmação da gravidade das ocorrências por um telegrama do Delegado Especial, Capitão Lima, que reclamava auxílio de um forte contingente de praças para poder dominar a situação. Diversas providências tomadas pelo então Chefe de Polícia, dentre as quais a de recomendar ao delegado especial de Carangola que empregasse todos os esforços para conservar desimpedidas as comunicações de Manhuaçu com esta Capital; de tomar as precauções necessárias para que não fossem transmitidos, aos amotinados, avisos da aproximação e da quantidade de força que daqui partiria no dia seguinte. Efetivamente, a 3, pelo trem da manhã, foi despachado um contingente de 50 praças do esquadrão de cavalaria, bem armadas e municiadas, sob o Comando do Alferes Mello Franco. Essa força partiu de Carangola, no dia 4, às 7 horas da manhã, levando o juiz de direito e o presidente da Câmara, Coronel Frederico Dolabella, e entrou em Manhuaçu no dia 6, ao meio-dia, sem outro incidente, a não ser a morte do conhecido desordeiro Vicente Sedaro, um dos signatários do boletim acima transcrito, o qual, num impulso de ousadia, antepôs-se à força em atitude agressiva, contra ela disparando tiros. Teve então a força de reagir, fazendo fogo contra o agitador, que veio a falecer em consequência dos ferimentos recebidos. Nesse mesmo dia, foram recolhidos à prisão o Dr. Fausto Maldonado, o coronel José Bento Barbosa, pronunciados por crime de homicídio, e todos os signatários do boletim, menos dois, que se evadiram. As últimas notícias dão como restabelecida a ordem e recolocados em seus cargos as autoridades e funcionários que haviam sido violentamente depostos (...). Sobre todas as ocorrências está o delegado especial procedendo a inquérito, segundo instruções recebidas da Chefia de Polícia”.

A transcrição acima, quase na íntegra, é um retrato POLÍCIA SEGURANÇA PÚBLICA. Localizado do interior mineiro àquela época, quando as armas de fogo abundavam (carabinas, garruchas, revólveres...), e os problemas, normalmente, resolvidos à bala.

Manhuaçu fora o clímax, quando o Dr. Fausto Maldonado, já processado por outros homicídios, pretendera proclamar a “independência do município” pela lei das armas.

(Pesquisa: Sebastião Fernandes, Extraído do livro Polícia de Segurança Pública/MG, Construção do Período Republicano (1890/1970), de Cel. Klinger Sobreira de Almeida – 1ª Ed. Belo Horizonte, 2021/ foto: Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais/ SIAPM)


1908: Senador João Luiz Alves e Comitiva, em
trecho da Estrada de Ferro Vitória-Diamantina, sobre
ponte metálica em Manhuaçu (MG), em 31/07/1908

(Arquivo SIAAPM). 




domingo, 27 de março de 2022

O Exército de um Homem Só

Este livro está definitivamente incorporado à literatura brasileira como uma das peças de ficção mais importantes produzidas na década de 70. Aqui, Scliar cria um personagem definitivo, o Capitão Birobidjan, destemido herói de um novo mundo, fanático pregador de utopias, solitário e esperançoso navegador de um mar de indiferença.

O exército de um homem só arrebata o leitor através da narrativa ágil, precisa, estruturada sobre cortes no tempo, onde a ficção é envolvida constantemente por uma atmosfera fantástica. O humor amargo de Moacyr Scliar ronda este belo livro. A saga de Birobidjan, o solitário pregador de um mundo melhor, seu louco humanismo, quixotesco, seus sonhos mágicos, fazem deste livro uma leitura emocionante e inesquecível.

(fonte: Moacyr Scliar | O Exército de um Homem Só - Moacyr Scliar)

terça-feira, 22 de março de 2022

Dia de Campo em Monte Alverne levou música, alegria e informação para agricultores

 Com música, alegria e informação para os agricultores de Manhuaçu, novo dia de campo foi realizado. Desta vez, foi atendida a Comunidade Monte Alverne, no distrito de Palmeiras do Manhuaçu, na tarde da última sexta-feira, 18/03. O evento foi organizado na propriedade do casal Sr. Orlando e Sra. Maria da Glória.

Foi o quarto dia de campo da temporada 2022. A iniciativa que mobiliza a população rural é consolidada a partir de parceria entre Emater, Prefeitura, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Sindicato dos Produtores Rurais, CMDRS (Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sustentável), IF Sudeste de Minas, COORPOL, CRESOL, Sicoob Credilivre, CEAFA e Associação de Mulheres de Monte Alverne.

Entre os presentes, autoridades municipais, lideranças sociais e representantes das instituições participantes.

As palestras ministradas na comunidade foram: ‘Cuidados na pré-colheita e colheita para a qualidade do café’ (Thiago Braga, Extensionista da EMATER), ‘Contenção de enxurradas nas estradas rurais’ (Paulo César, Extensionista EMATER) e ‘Saúde da Mulher’ (Carla Mendes Queiroz, Especialista em Saúde da Família).

Nos intervalos entre palestras, foram realizados sorteios, e, no encerramento, animado show musical com ‘Zé Dutra e Companhia’. No decorrer do evento, um stand de beleza atraiu a atenção do público feminino, entre outras barracas expondo trabalhos artísticos em tricot, crochê, pintura em tecido e outras ações desenvolvidas pelos moradores da comunidade, visando a geração de renda complementar às atividades agrícolas. Empresas do agronegócio também prestigiaram o evento, com stands especiais que apresentaram inovações em produtos para o setor.

Próximos eventos

Os próximos Dias de Campo serão realizados em Palmeirinha (25/03), São Domingos (01/04), Manhuaçuzinho (20/04), Gavião (29/04), Soledade (06/05) e Raiz (16/09).

(Thomaz Júnior)














domingo, 20 de março de 2022

5º Encontro BRUDDEN/ A.S. Distribuição é realizado com sucesso em Manhuaçu

     Sucesso que se consolida na cidade, o 5º Encontro BRUDDEN / A.S. Distribuição de Revendas e Oficinas foi realizado com excelentes atrativos e bons negócios, no último dia 10/03, em Manhuaçu.

Promovido no Espaço Green Ville, em ambiente especialmente estruturado com telão e sonorização de alta definição, além de agradável acolhida no requintado salão, o evento reuniu expressiva participação de revendedores e representantes de oficinas da região, durante todo o dia.

Especializada em equipamentos que visam atender a integração do homem com o campo, a Brudden constantemente apresenta inovações, tanto no design quanto na funcionalidade para os mais diversos trabalhos.

Logo na abertura, o empresário Rafael Santiago, Diretor da A.S. Distribuição, deu as boas-vindas aos participantes e destacou sua satisfação em prosseguir com a iniciativa deste evento, possível graças a este abrandamento da pandemia, e congratular com todos a alegria deste reencontro.

Rafael mencionou a dedicação e profissionalismo de toda a equipe A.S. Distribuição em levar produtos e total orientação aos clientes, sempre com inovações e o oferecimento do que há de mais moderno no mercado.

Após delicioso café da manhã, os convidados assistiram a três palestras especiais, momentos marcantes da programação deste ano.

Na primeira palestra intitulada ‘Brudden 2022: do plantio à colheita do café’, ministrada pelo Gerente Comercial da BRUDDEN, Bruno Silva, foi apresentada a nova linha de equipamentos para a cafeicultura, como derriçadeiras, roçadeiras, atomizadores, entre outros, com a explanação sobre o desenvolvimento destes produtos, planejados para proporcionar ganhos de produtividade na lavoura, a partir do design e da tecnologia.

Outro momento especial foi a palestra apresentada pelo Supervisor de Marketing da BRUDDEN, Bruno Gavassi, ‘Análise SWOT: Conhecendo o seu negócio!’. Bruno frisou de forma muito clara a sobre a importância de o empresário ter consciência do real cenário do seu empreendimento para que ele corrija o que for preciso e avance.

Após intervalo e saboroso almoço servido a todos os convidados, foi ministrada a cativante palestra de William Lin, do Instituto I9C, apresentação que também despertou grande entusiasmo e inspiração empreendedora no público.

William Lin trouxe reflexão leve e bem humorada sobre como sair de um estado de carência e escassez, rumo a uma vida abundante e feliz, a partir da inteligência emocional e empatia para alcançar o sucesso na comunicação e relacionamento com as pessoas.

Após as palestras, teve início a rodada de negócios e o pronunciamento do Diretor Rafael Santiago, que agradeceu mais uma vez a presença dos revendedores, representantes de oficinas e demais convidados.

No encerramento, os participantes foram presenteados com uma lembrança surpresa do evento deste ano, gentilmente oferecida pela A.S. Distribuição.
















domingo, 13 de março de 2022

Dia da Mulher: palestra evidencia ‘Finança para Elas’ no SICOOB Credilivre em Manhuaçu

 Em comemoração ao Dia da Mulher, Chá da Tarde realizado pela Cooperativa de Crédito SICOOB Credilivre reuniu grande número de participantes no auditório da sede administrativa, na tarde desta terça-feira, 08/03.

O momento de confraternização também foi de conhecimento, com a palestra ministrada pela especialista Márcia Berto, que evidenciou o tema: ‘Finanças para Elas’.

O auditório permaneceu lotado, durante todo o evento, que teve início às 15h.

Autoridades do município e lideranças sociais femininas de Manhuaçu e da região participaram do encontro, além de membros da Diretoria e do Conselho da Cooperativa.

Apresentada ao vivo, no telão, a palestra pontuou questões importantes sobre educação financeira, investimentos, controle dos gastos, planejamento doméstico, entre outros.

A moderna estrutura tecnológica do ambiente possibilitou às participantes interagir com a palestrante e esclarecer dúvidas.

No encerramento, foi servido delicioso lanche, café e saboroso chá da tarde.

(Thomaz Júnior / Diário de Manhuaçu)









 

sábado, 12 de março de 2022

CONSEP se empenha para que efetivo da Polícia Civil seja ampliado em Manhuaçu

 Em nova reunião ordinária realizada na noite desta terça-feira, 08/03, o CONSEP (Conselho Municipal de Segurança Pública e Defesa Social) de Manhuaçu, destacou a importância do trabalho investigativo desempenhado pela Polícia Civil, e, a grande demanda existente não só no município, mas em todo o território da Comarca que abrange outras cinco cidades: Luisburgo, Simonésia, Santana do Manhuaçu, São João do Manhuaçu e Reduto.

Neste contexto, foi pontuado o reforço que representa para o desenvolvimento destas ações em segurança pública, a vinda de mais policiais, para ampliar o efetivo atual na região.

Sob a presidência de Sargento Anízio Gonçalves de Souza, a reunião tratou de questões relacionadas ao trânsito urbano e a continuidade da pauta sobre a busca de providências para o ‘lixão’ da cidade, situado junto à Usina de Triagem do Lixo.

Sobre o posicionamento de buscar a ampliação do efetivo da Polícia Civil, Anízio destacou a participação do Delegado, Dr. Guilherme Mariano Caldeira, na reunião; um momento muito aproveitado pelos conselheiros, que debateram a questão e esclareceram dúvidas.

Em relação ao trânsito, Anízio relatou que era aguardada nesta reunião a presença do Diretor do Departamento Municipal de Trânsito, Dr. Eustáquio Leite. No entanto, ele não compareceu e justificou a ausência, informando questões médicas.

Quanto ao lixão urbano, a preocupação é com o acúmulo de resíduos sólidos, decorrente de quase três décadas de depósito em um único local: a parte alta do Bairro Santa Teresinha. Além do gigantesco volume de material descartado, o chorume que escorre montanha abaixo, o mau-cheiro, o risco de doenças respiratórias e de zoonoses para os moradores de áreas próximas, entre outros transtornos.

Neste contexto, Anízio mencionou que os trabalhos prosseguem e que, em breve, novas reuniões ocorreram com a Administração Municipal e demais órgãos competentes.

 



sexta-feira, 11 de março de 2022

Associação de Ministros Evangélicos de Manhuaçu retoma reunião presencial

 A AMEM (Associação de Ministros Evangélicos de Manhuaçu) realizou a primeira reunião presencial após a pandemia, na manhã desta quarta-feira, 09/03. O encontro ocorreu no auditório do SICOOB Credilivre, com expressiva participação dos Pastores Evangélicos que integram a entidade.

Na abertura das atividades, membros da Diretoria do SICOOB Credilivre deram as boas-vindas aos participantes da reunião, além de destacar o apoio da cooperativa com as atividades da associação.

Em seguida, o Presidente da AMEM, Pastor Gilberto Carlos Onofre Pereira (Igreja Tabernáculo, de Vilanova), conduziu os trabalhos do dia.

Durante a reunião, pastores membros da entidade apresentaram novos projetos sociais e de evangelização para apreciação do plenário, além das atualizações relacionadas aos componentes das Comissões Internas da AMEM. Em razão da celebração do Dia da Mulher, foi prestada homenagem às participantes da associação, presentes à reunião.

Pastor Gilberto fez positiva avaliação deste primeiro encontro presencial, após a pandemia, e que a AMEM pretende consolidar importantes projetos em Manhuaçu, no decorrer deste ano.
(Thomaz Júnior/ Diário de Manhuaçu)








quinta-feira, 3 de março de 2022

Nova temporada de Dias de Campo tem início em Manhuaçu

 Dia de Campo realizado no Córrego dos Rochedos, no Distrito de Palmeiras do Manhuaçu, nesta quinta-feira, 24/02, marcou a abertura de nova temporada destes importantes encontros da agricultura familiar no município.

Em Manhuaçu, esta iniciativa da agricultura familiar se consolida com a parceria entre Emater, Prefeitura, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Sindicato dos Produtores Rurais, CMDRS (Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sustentável), IF Sudeste de Minas, COORPOL e empresas parceiras, além das associações comunitárias.

Em razão da pandemia do coronavírus, estes eventos nas comunidades rurais estavam suspensos há dois anos.

No decorrer do evento, foram abordados temas como ‘análise do solo e nutrição do cafeeiro’ e ‘colheita e qualidade do café’. A terceira palestra, que trataria “contenção de enxurradas em estradas rurais”, não foi realizada devido às fortes chuvas que caíram durante o encontro, inviabilizando a sua continuidade.

De acordo com o Gerente Regional da EMATER, Rômulo Mathozinho, os temas abordados foram escolhidos pela comunidade. ‘Essa interação com os produtores é importante. Desta forma, conhecemos suas necessidades e trazemos conhecimento de acordo com o que desejam. O Dia de Campo é o momento de troca de experiências e melhor capacitação dos trabalhadores com os extensionistas’, finalizou.

Durante o evento, houve a disponibilidade de ambulância, da Secretaria M. de Saúde, e serviços em assistência social, disponibilizados pelo CRAS Itinerante.

 

PRÓXIMOS EVENTOS

 

No próximo dia 10/03, será realizado o Encontro da Mulher Rural, na comunidade de Vila de Fátima.

Em seguida, serão realizados novos Dias de Campo em Santo Amaro de Minas (11/03), Monte Alverne (18/03), Palmeirinha (25/03), São Domingos (01/04), Manhuaçuzinho (20/04), São Geraldo/ Gavião (29/04), Soledade (06/05) e Raiz (16/09).















quarta-feira, 2 de março de 2022

O espelho

(Foto/ arte: Revista da Educação)












Esboço de uma nova teoria da alma humana


 Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência,

sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no

morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se

misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e

aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e

sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas,

resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo.

Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles,

havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no

debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma

idade dos companheiros, entre quarenta e cinqüenta anos, era provinciano, capitalista,

inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e

defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do

instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os

serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e

eterna. Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e

desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu

um instante, e respondeu:

- Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.

Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois

ou três minutos, mas trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na

natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos. Cada cabeça, cada

sentença; não só o acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela

multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela

inconsistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, -

uma conjetura, ao menos.

- Nem conjetura, nem opinião, redargüiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento,

e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um

caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se

trata. Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas...

- Duas?

- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha

de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar

de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto

e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens,

um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a

alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma

máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa

segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é,

metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente

metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da

existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma exterior aquele judeu eram os seus

ducados; perdê-los equivalia a morrer. "Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um

punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a perda dos ducados, alma

exterior, era a morte para ele. Agora, é preciso saber que a alma exterior não é sempre a

mesma...

- Não?

- Não, senhor; muda de natureza e de estado. Não aludo a certas almas absorventes, como a

pátria, com a qual disse o Camões que morria, e o poder, que foi a alma exterior de César e

de Cromwell. São almas enérgicas e exclusivas; mas há outras, embora enérgicas, de

natureza mudável. Há cavalheiros, por exemplo, cuja alma exterior, nos primeiros anos, foi

um chocalho ou um cavalinho de pau, e mais tarde uma provedoria de irmandade,

suponhamos. Pela minha parte, conheço uma senhora, - na verdade, gentilíssima, - que

muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano. Durante a estação lírica é a ópera;

cessando a estação, a alma exterior substitui-se por outra: um concerto, um baile do

Cassino, a rua do Ouvidor, Petrópolis...

- Perdão; essa senhora quem é?

- Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome; chama-se Legião... E assim outros

mais casos. Eu mesmo tenho experimentado dessas trocas. Não as relato, porque iria longe;

restrinjo-me ao episódio de que lhes falei. Um episódio dos meus vinte e cinco anos...

Os quatro companheiros, ansiosos de ouvir o caso prometido, esqueceram a controvérsia.

Santa curiosidade! tu não és só a alma da civilização, és também o pomo da concórdia,

fruta divina, de outro sabor que não aquele pomo da mitologia. A sala, até há pouco ruidosa

de física e metafísica, é agora um mar morto; todos os olhos estão no Jacobina, que

conserta a ponta do charuto, recolhendo as memórias. Eis aqui como ele começou a

narração:

- Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acabava de ser nomeado alferes da Guarda

Nacional. Não imaginam o acontecimento que isto foi em nossa casa. Minha mãe ficou tão

orgulhosa! tão contente! Chamava-me o seu alferes. Primos e tios, foi tudo uma alegria

sincera e pura. Na vila, note-se bem, houve alguns despeitados; choro e ranger de dentes,

como na Escritura; e o motivo não foi outro senão que o posto tinha muitos candidatos e

que esses perderam. Suponho também que uma parte do desgosto foi inteiramente gratuita:

nasceu da simples distinção. Lembra-me de alguns rapazes, que se davam comigo, e

passaram a olhar-me de revés, durante algum tempo. Em compensação, tive muitas pessoas

que ficaram satisfeitas com a nomeação; e a prova é que todo o fardamento me foi dado por

amigos... Vai então uma das minhas tias, D. Marcolina, viúva do Capitão Peçanha, que

morava a muitas léguas da vila, num sítio escuso e solitário, desejou ver-me, e pediu que

fosse ter com ela e levasse a farda. Fui, acompanhado de um pajem, que daí a dias tornou à

vila, porque a tia Marcolina, apenas me pilhou no sítio, escreveu a minha mãe dizendo que

não me soltava antes de um mês, pelo menos. E abraçava-me! Chamava-me também o seu

alferes. Achava-me um rapagão bonito. Como era um tanto patusca, chegou a confessar que

tinha inveja da moça que houvesse de ser minha mulher. Jurava que em toda a província

não havia outro que me pusesse o pé adiante. E sempre alferes; era alferes para cá, alferes

para lá, alferes a toda a hora. Eu pedia-lhe que me chamasse Joãozinho, como dantes; e ela

abanava a cabeça, bradando que não, que era o "senhor alferes". Um cunhado dela, irmão

do finado Peçanha, que ali morava, não me chamava de outra maneira. Era o "senhor

alferes", não por gracejo, mas a sério, e à vista dos escravos, que naturalmente foram pelo

mesmo caminho. Na mesa tinha eu o melhor lugar, e era o primeiro servido. Não

imaginam. Se lhes disser que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de mandar pôr

no meu quarto um grande espelho, obra rica e magnífica, que destoava do resto da casa,

cuja mobília era modesta e simples... Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta

herdara da mãe, que o comprara a uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de D. João

VI. Não sei o que havia nisso de verdade; era a tradição. O espelho estava naturalmente

muito velho; mas via-se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo, uns delfins

esculpidos nos ângulos superiores da moldura, uns enfeites de madrepérola e outros

caprichos do artista. Tudo velho, mas bom...

- Espelho grande?

- Grande. E foi, como digo, uma enorme fineza, porque o espelho estava na sala; era a

melhor peça da casa. Mas não houve forças que a demovessem do propósito; respondia que

não fazia falta, que era só por algumas semanas, e finalmente que o "senhor alferes"

merecia muito mais. O certo é que todas essas coisas, carinhos, atenções, obséquios,

fizeram em mim uma transformação, que o natural sentimento da mocidade ajudou e

completou. Imaginam, creio eu?

- Não.

- O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas

não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade.

Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das

moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me

falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficou

comigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no

passado. Custa-lhes acreditar, não?

- Custa-me até entender, respondeu um dos ouvintes.

- Vai entender. Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo. A melhor

definição do amor não vale um beijo de moça namorada; e, se bem me lembro, um filósofo

antigo demonstrou o movimento andando. Vamos aos fatos. Vamos ver como, ao tempo em

que a consciência do homem se obliterava, a do alferes tornava-se viva e intensa. As dores

humanas, as alegrias humanas, se eram só isso, mal obtinham de mim uma compaixão

apática ou um sorriso de favor. No fim de três semanas, era outro, totalmente outro. Era

exclusivamente alferes. Ora, um dia recebeu a tia Marcolina uma notícia grave; uma de

suas filhas, casada com um lavrador residente dali a cinco léguas, estava mal e à morte.

Adeus, sobrinho! adeus, alferes! Era mãe extremosa, armou logo uma viagem, pediu ao

cunhado que fosse com ela, e a mim que tomasse conta do sítio. Creio que, se não fosse a

aflição, disporia o contrário; deixaria o cunhado e iria comigo. Mas o certo é que fiquei só,

com os poucos escravos da casa. Confesso-lhes que desde logo senti uma grande opressão,

alguma coisa semelhante ao efeito de quatro paredes de um cárcere, subitamente levantadas

em torno de mim. Era a alma exterior que se reduzia; estava agora limitada a alguns

espíritos boçais. O alferes continuava a dominar em mim, embora a vida fosse menos

intensa, e a consciência mais débil. Os escravos punham uma nota de humildade nas suas

cortesias, que de certa maneira compensava a afeição dos parentes e a intimidade doméstica

interrompida. Notei mesmo, naquela noite, que eles redobravam de respeito, de alegria, de

protestos. Nhô alferes, de minuto a minuto; nhô alferes é muito bonito; nhô alferes há de ser

coronel; nhô alferes há de casar com moça bonita, filha de general; um concerto de

louvores e profecias, que me deixou extático. Ah ! pérfidos! mal podia eu suspeitar a

intenção secreta dos malvados.

- Matá-lo?

- Antes assim fosse.

- Coisa pior?

- Ouçam-me. Na manhã seguinte achei-me só. Os velhacos, seduzidos por outros, ou de

movimento próprio, tinham resolvido fugir durante a noite; e assim fizeram. Achei-me só,

sem mais ninguém, entre quatro paredes, diante do terreiro deserto e da roça abandonada.

Nenhum fôlego humano. Corri a casa toda, a senzala, tudo; ninguém, um molequinho que

fosse. Galos e galinhas tão-somente, um par de mulas, que filosofavam a vida, sacudindo as

moscas, e três bois. Os mesmos cães foram levados pelos escravos. Nenhum ente humano.

Parece-lhes que isto era melhor do que ter morrido? era pior. Não por medo; juro-lhes que

não tinha medo; era um pouco atrevidinho, tanto que não senti nada, durante as primeiras

horas. Fiquei triste por causa do dano causado à tia Marcolina; fiquei também um pouco

perplexo, não sabendo se devia ir ter com ela, para lhe dar a triste notícia, ou ficar tomando

conta da casa. Adotei o segundo alvitre, para não desamparar a casa, e porque, se a minha

prima enferma estava mal, eu ia somente aumentar a dor da mãe, sem remédio nenhum;

finalmente, esperei que o irmão do tio Peçanha voltasse naquele dia ou no outro, visto que

tinha saído havia já trinta e seis horas. Mas a manhã passou sem vestígio dele; à tarde

comecei a sentir a sensação como de pessoa que houvesse perdido toda a ação nervosa, e

não tivesse consciência da ação muscular. O irmão do tio Peçanha não voltou nesse dia,

nem no outro, nem em toda aquela semana. Minha solidão tomou proporções enormes.

Nunca os dias foram mais compridos, nunca o sol abrasou a terra com uma obstinação mais

cansativa. As horas batiam de século a século no velho relógio da sala, cuja pêndula tic-tac,

tic-tac, feria-me a alma interior, como um piparote contínuo da eternidade. Quando, muitos

anos depois, li uma poesia americana, creio que de Longfellow, e topei este famoso

estribilho: Never, for ever! - For ever, never! confesso-lhes que tive um calafrio: recordeime

daqueles dias medonhos. Era justamente assim que fazia o relógio da tia Marcolina: -

Never, for ever!- For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo,

um cochicho do nada. E então de noite! Não que a noite fosse mais silenciosa. O silêncio

era o mesmo que de dia. Mas a noite era a sombra, era a solidão ainda mais estreita, ou

mais larga. Tic-tac, tic-tac. Ninguém, nas salas, na varanda, nos corredores, no terreiro,

ninguém em parte nenhuma... Riem-se?

- Sim, parece que tinha um pouco de medo.

- Oh! fora bom se eu pudesse ter medo! Viveria. Mas o característico daquela situação é

que eu nem sequer podia ter medo, isto é, o medo vulgarmente entendido. Tinha uma

sensação inexplicável. Era como um defunto andando, um sonâmbulo, um boneco

mecânico. Dormindo, era outra coisa. O sono dava-me alívio, não pela razão comum de ser

irmão da morte, mas por outra. Acho que posso explicar assim esse fenômeno: - o sono,

eliminando a necessidade de uma alma exterior, deixava atuar a alma interior. Nos sonhos,

fardava-me orgulhosamente, no meio da família e dos amigos, que me elogiavam o garbo,

que me chamavam alferes; vinha um amigo de nossa casa, e prometia-me o posto de

tenente, outro o de capitão ou major; e tudo isso fazia-me viver. Mas quando acordava, dia

claro, esvaía-se com o sono a consciência do meu ser novo e único -porque a alma interior

perdia a ação exclusiva, e ficava dependente da outra, que teimava em não tornar... Não

tornava. Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de regresso. Soeur

Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa nenhuma; tal qual como na lenda

francesa. Nada mais do que a poeira da estrada e o capinzal dos morros. Voltava para casa,

nervoso, desesperado, estirava-me no canapé da sala. Tic-tac, tic-tac. Levantava-me,

passeava, tamborilava nos vidros das janelas, assobiava. Em certa ocasião lembrei-me de

escrever alguma coisa, um artigo político, um romance, uma ode; não escolhi nada

definitivamente; sentei-me e tracei no papel algumas palavras e frases soltas, para intercalar

no estilo. Mas o estilo, como tia Marcolina, deixava-se estar. Soeur Anne, soeur Anne...

Coisa nenhuma. Quando muito via negrejar a tinta e alvejar o papel.

- Mas não comia?

- Comia mal, frutas, farinha, conservas, algumas raízes tostadas ao fogo, mas suportaria

tudo alegremente, se não fora a terrível situação moral em que me achava. Recitava versos,

discursos, trechos latinos, liras de Gonzaga, oitavas de Camões, décimas, uma antologia em

trinta volumes. As vezes fazia ginástica; outra dava beliscões nas pernas; mas o efeito era

só uma sensação física de dor ou de cansaço, e mais nada. Tudo silêncio, um silêncio vasto,

enorme, infinito, apenas sublinhado pelo eterno tic-tac da pêndula. Tic-tac, tic-tac...

- Na verdade, era de enlouquecer.

- Vão ouvir coisa pior. Convém dizer-lhes que, desde que ficara só, não olhara uma só vez

para o espelho. Não era abstenção deliberada, não tinha motivo; era um impulso

inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo, naquela casa solitária; e

se tal explicação é verdadeira, nada prova melhor a contradição humana, porque no fim de

oito dias deu-me na veneta de olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois.

Olhei e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me

estampou a figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra. A

realidade das leis físicas não permite negar que o espelho reproduziu-me textualmente, com

os mesmos contornos e feições; assim devia ter sido. Mas tal não foi a minha sensação.

Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação nervosa em que andava; receei ficar mais

tempo, e enlouquecer. - Vou-me embora, disse comigo. E levantei o braço com gesto de

mau humor, e ao mesmo tempo de decisão, olhando para o vidro; o gesto lá estava, mas

disperso, esgaçado, mutilado... Entrei a vestir-me, murmurando comigo, tossindo sem

tosse, sacudindo a roupa com estrépito, afligindo-me a frio com os botões, para dizer

alguma coisa. De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a

mesma difusão de linhas, a mesma decomposição de contornos... Continuei a vestir-me.

Subitamente por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo, lembrou-me...

Se forem capazes de adivinhar qual foi a minha idéia...

- Diga.

- Estava a olhar para o vidro, com uma persistência de desesperado, contemplando as

próprias feições derramadas e inacabadas, uma nuvem de linhas soltas, informes, quando

tive o pensamento... Não, não são capazes de adivinhar.

- Mas, diga, diga.

- Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava

defronte do espelho, levantei os olhos, e... não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a

figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o

alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Essa alma ausente com a dona do sítio, dispersa

e fugida com os escravos, ei-la recolhida no espelho. Imaginai um homem que, pouco a

pouco, emerge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver, distingue as

pessoas dos objetos, mas não conhece individualmente uns nem outros; enfim, sabe que

este é Fulano, aquele é Sicrano; aqui está uma cadeira, ali um sofá. Tudo volta ao que era

antes do sono. Assim foi comigo. Olhava para o espelho, ia de um lado para outro, recuava,

gesticulava, sorria e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente

animado. Daí em diante, fui outro. Cada dia, a uma certa hora, vestia-me de alferes, e

sentava-me diante do espelho, lendo olhando, meditando; no fim de duas, três horas,

despia-me outra vez. Com este regime pude atravessar mais seis dias de solidão sem os

sentir...

Quando os outros voltaram a si, o narrador tinha descido as escadas.

FIM

 

(Fonte:

ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II.).



“Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Lc 12,34)

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