O estudo da História nos leva a entrar em contato com as mais diversas temáticas e com os mais interessantes personagens que podemos imaginar. Para a coluna deste domingo selecionamos uma figura de grande importância para aqueles que se dedicam à História da Religião. O seu nome é Clemente de Alexandria.
Grego de uma família de libertos, nascido cerca do ano 180, no paganismo, Clemente encontra o cristianismo na juventude e a ele se entrega de todo. Durante anos seguidos, em incessantes viagens da Grécia para a Síria e da Palestina para o Egito, este homem procurou penetrar melhor na doutrina de Cristo, ouvindo atentamente a cristãos e sábios.
Na ótica de Clemente, a vida é um verdadeiro "combate espiritual", isso no que diz respeito à transformação que ocorre na vida das pessoas que, seguindo o ideal cristão, tentam levar uma vida "santificada".
Clemente expôs os princípios dos deveres familiares que seriam um novo sentido adquirido pelo casamento. O que o Cristianismo condena é o abuso e o excesso de afeição que o homem tem aos bens da terra e que o obriga a desconhecer o seu verdadeiro sentido e o seu valor limitado", dizia ele em seu livro Estrômatas. Clemente de Alexandria e muitos outros padres da Igreja primitiva condenam com rigor o luxo, os vestuários de ricos coloridos, “os sapatos bordados a ouro, sobre os quais os gregos se enrolam em espiral, e a gulodice desmedida dos ricos, as gastronomias requintadas, e a "vã habilidade dos pasteleiros”. O ensinamento da Igreja e que se deve usar o que Deus legou, mas com moderação e gratidão: o alimento celestial (que é simples por natureza) seria o único prazer fino e puro".
Por vezes, Clemente se referiu que na Igreja há ricos e pobres; e já dizia São Justino: nós que amávamos o ganho distribuíamos, agora, tudo o que possuímos”, o que não justifica que o lucro e a propriedade sejam condenados. As riquezas da terra são efémeras, a única riqueza verdadeira é a do céu, visto que essa jamais passará. Temos aí a explicação para, no ideal de Clemente, a dificuldade que os ricos encontravam para entrar no reino dos céus.
Um homem que se dedicava plenamente à luta contra o gnosticismo; foi “o mais instruído dos padres” na visão de alguns historiadores. Segundo Clemente, a distorção do pensamento de Jesus a respeito do novo casamento (Mt. 19) - hoje lugar-comum - em que se parte para defesa do celibato, têm origem nos "arqui-hereges"; os chamados gnósticos. Clemente escreve: "Os basilidianos afirmam que o Senhor, em resposta à pergunta dos apóstolos se não seria melhor renunciar ao casamento", respondeu: "Nem todos os homens podem entender isso..." e interpretam essa passagem mais ou menos da seguinte forma: "Os que se tornaram impotentes para o casamento tomaram essa decisão em virtude das consequências decorrentes do cаsаmento para eles, porque temem as dificuldades em adquirir os meios de subsistência".
As concepções de Clemente de Alexandria contribuíram para a organização inicial da Igreja católica e em muito são válidas para a compreensão que a História tenta fazer de épocas passadas, das diferentes formas de vida e manifestações culturais.
Germano Campos e Amanda Dutra (historiadores e professores)
Coluna ‘Historiando’, Publicada no Jornal Tribuna do Leste, ed. de 11 de agosto de 2013, p. 22.
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