Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba – SP
Colhi de uma agência de notícias
na internet a seguinte afirmação: “Steve Jobs foi homenageado até mesmo por
veículos ligados ao Vaticano”. Note o leitor que o “até mesmo” pode ser
interpretado negativamente, pois atrás da expressão poderia estar a ideia de
que a Igreja se opõe ao avanço das novas tecnologias, o que não é verdade. “A
maior contribuição que Steve Jobs nos deixou é a de sentir a tecnologia como
algo que faz parte da vida de todos os dias. Deixou de ser um assunto apenas
para técnicos”, comentou a Rádio Vaticano.
Recentemente participei de um
Seminário de Comunicação para bispos, promovido pelo Conselho Pontifício para
as Comunicações Sociais da Santa Sé, no qual, além das análises socioculturais
do impacto das novas tecnologias de comunicação, procuramos pensá-las à luz da
fé, sobretudo através de uma rica exposição com o seguinte título:
“Espiritualidade e Elementos para uma Teologia da Comunicação em Rede”.
Apenas para o leitor se fazer uma
ideia do significado que a Igreja atribui à Internet, cito um breve trecho da
conferência do teólogo: “A rede, colocada ao alcance da mão (também no sentido
literal), começa a incidir sobre a capacidade de viver e de pensar. De seu
influxo depende de algum modo a percepção de nós mesmos, dos outros e do mundo
que nos cerca e daquilo que ainda não conhecemos”. Uma nova cultura se instala
através da Internet. A humanidade se reconhece cada vez mais uma única família.
As novas tecnologias estão aí. O
que faremos delas? Espaço de relações verdadeiras ou praça de guerra? Espaço de
circulação da verdade ou de relações falsas? Com certeza Steve Jobs em seu
empenho criativo pensava estar colocando a serviço da humanidade poderosos
meios de comunicação. Sua história, por ele mesmo interpretada em discurso de
formatura na Universidade de Stanford, em junho de 2005, nos deixa preciosas
lições sobre o significado da Vida.
Na primeira parte, que ele
designa como “ligar os pontos”, descreve como os aparentes contratempos da
existência, passado o tempo, se ligam harmoniosamente e afirma: “claro que era
impossível conectar os pontos olhando para frente quando eu estava na
faculdade. Mas ficou muito claro olhando para trás, dez anos depois. Você só
pode conectar os pontos de algum jeito olhando para trás” e acrescenta: “Então você
tem que confiar que os pontos de algum jeito vão se conectar no futuro”.
Na segunda parte, que ele
denomina “Amor e Perda”, Steve testemunha que sua demissão da empresa, que ele
mesmo fundara, a Apple, significou um grande vazio, mas que, mesmo assim, ele
continuava amando o que fazia e decidiu recomeçar tudo de novo e afirma que a
demissão, vista depois, “foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim.
Deu-me a liberdade para começar um dos períodos mais criativos de minha vida”
quando criou duas empresas a NeXT e a Pixar e “em que me apaixonei por uma
mulher maravilhosa que se tornou minha esposa”. Ao narrar essa parte ele diz
aos formandos: “Às vezes a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a
fé”. Amor ao trabalho e às pessoas é o segredo de viver contente. Na terceira
parte, Steve narra o diagnóstico do câncer no Pâncreas que, finalmente, o levou
à morte e passa a refletir sobre a morte.
Começa por lembrar-se de ter
lido, aos 17 anos, em algum lugar: “Se você viver cada dia como se fosse o
último, algum dia provavelmente você vai acertar”. Levou a sério o que lera e
afirma ter mudado várias vezes de direção por se perguntar: “se fosse hoje o
último dia de minha vida, eu iria querer fazer o que vou fazer hoje?” E
assevera: “lembrar que eu logo vou estar morto é a ferramenta mais importante
que eu já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida, porque
quase tudo, toda expectativa exterior, todo orgulho, todo o medo de
dificuldades, de falhas, estas coisas simplesmente somem em face da morte,
deixando apenas o que realmente é importante. Lembrar que você vai morrer é a
melhor maneira que conheço para evitar a armadilha de achar que você tem algo a
perder. Você está nu. Não há razão para não seguir seu coração”.
Mais adiante Steve diz que
ninguém quer morrer mesmo crendo no céu “e mesmo assim a morte é o destino que
todos compartilhamos. Ninguém nunca escapou dela. E é como deveria ser, porque
a Morte é muito provavelmente a melhor invenção da Vida. É o agente de mudança
da vida. Ela tira o que é velho do caminho para dar espaço ao novo”. E
dirigindo-se aos jovens: “Seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo
a vida de outra pessoa…. Não deixe o ruído da opinião alheia sufocar sua voz
interior…tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição”…tudo o mais é
secundário”. E termina; “Stay Hungry, Stay Foolish”, “continue faminto,
continue ingênuo”, ou seja, nunca desista, acredite sempre.
(Extraído de http://ironispuldaro.com.br/site/tecnologia-e-sabedoria/)
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